16 Janeiro 2022      11:15

Está aqui

Último Segundo

Estamos os dois sentados com as pernas estendidas. O sol, envergonhado, lança pequenos raios de cores quentes avisando que se vai despedir em breve. Tal como nós.

Acredito que ambos nos decidimos ficar pelo silêncio confortável por não saber passar para palavras o que estamos a sentir neste momento, nesta situação. Os nossos pensamentos queimam num volume estridente. Entre as nossas respirações tristes e irregulares, estico a minha mão até esta entrelaçar num amor profundo com o dono de um amor impossível.

Quente agora, com o meu coração conectado, fecho os olhos, sentido e guardando esta sensação para me relembrar nos dias chuvosos e melancólicos.

A conexão dos nossos corpos lado a lado é inevitável não sentir. Sinto-me aconchegada e poderia viver neste sentimento para sempre.

É final de junho e a sombra ajuda-me a manter a postura, sendo quase missão impossível neste momento. O meu corpo está a sofrer tremores ritmados como a música que costumávamos cantar, não me sabendo controlar.

Os meus olhos, já abertos, que antes de estarem fechados permaneciam calados no chão, fixam-se agora no carro à nossa frente, movendo rapidamente o olhar até à (minha) pessoa da esquerda. O que sinto é demasiado forte para não se deixar ler pelas minhas feições.

Continuando sem saber o que fazer no próximo segundo, encolho-me com o pensamento de que este dia poderá ser o último capítulo.

Com pensamentos a caírem sem dó na minha mente, o meu olhar dá lhe um abraço dos nossos, fazendo promessas que guardarei comigo para sempre.

Chegou agora o momento. Avisaram-me que a maior prova de amor era deixar ir; porém, não sabia o quão complicado seria até o fazer.