Sobre viver: sobreviver

A pessoa certa nunca lê isto. Por vezes, lê, mas não lhe fica preso no pensamento. As pessoas certas nunca leem isto. Os indivíduos (in)certos nunca passam pela sobrevivência; viver é tão mais leve, não é? Sobre(viver) é tão duro. E sorrir custa muito mais do que ficar com o meu corpo nu em contacto com os meus lençóis de cetim enquanto conto as lágrimas que escorrem pelas minhas mãos. Não quero fingir nem aguento mais sobre(viver).

Sinto os arrepios nos meus braços, sei que ela chegou; ela já chegou, e encontrou-me, mais uma vez. Coloco a minha cabeça entre as minhas pernas, só sinto oposição. Quero um espaço branco na minha mente. Estou rodeada de antagonismos, mas é normal. Todos afiam as suas facas enquanto me observam. Sou um anacronismo. Se eu soubesse de tudo isto, tentaria fazê-lo de novo? Perdi o ensejo de me despedir (nem quero) porque faço parte da nova geração; porque eles julgam que eu sou o futuro da nação; porque ele acha que ainda duro algum tempo. Cada fôlego que eu respiro parece um esbanjamento em mim. Oh, Lilith, que desperdício! Não quero fingir nem aguento mais sobre(viver).

Domino o novo mundo: aquele que nasceu apressado, roubando-nos o descanso e o tempo que ainda guardávamos na alma e que fez com que os nossos lábios se tocassem depressa demais e sem uma gota de relevância; o mundo que me cansou. Oh, todas estas coisas que as pessoas fazem só para deixar uma prova de algo, mas do quê? A mente é nossa, ou da voz que lá perdura (quem és?). Estão sempre a correr atrás do tempo só para reservar um lugar, mas a única coisa que não morre é a morte. Não quero fingir nem aguento mais sobre(viver).

E eu tentei guardar estes segredos dentro de mim, mas a minha mente é como uma doença mortal. Também tentei falar contigo, mas sem resposta ou entendimento recíproco. Nunca perderei a esperança, pois nada se perde quando nada se tem. Todos aqueles que me conhecem vão desejar que eu nunca tivesse aparecido. Estou apenas a reger-me pelo código. Eu não sou mais do que outro simples tijolo numa parede. Não te esqueças que lírios negros são a minha encarnação preferida, coloca um no meio do meu peito. Não quero fingir nem aguento mais sobre(viver).