6 Abril 2021      09:57

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Sines diz estar “pronta” para receber projetos de hidrogénio

Nuno Mascarenhas, presidente da Câmara Municipal de Sines

A Câmara Municipal de Sines revelou estar pronta para receber os grandes projetos anunciados para o hidrogénio verde, que vão envolver os municípios vizinhos, nomeadamente na produção de energia solar, prometendo “novidades” para breve.

Em declarações à agência Lusa, Nuno Mascarenhas, presidente da autarquia, diz que não tem muita informação além da que vem na comunicação social (projetos de produção de hidrogénio verde para exportação que envolvem pelo menos sete mil milhões de euros) mas admite que tem tido “algumas reuniões”.

Segundo o autarca, a “questão do hidrogénio verde faz parte de uma estratégia que o Governo português tem de atingir a neutralidade carbónica em 2050, e obviamente é imprescindível diminuir os gases com efeito de estufa”.

Além disso, “naturalmente que o hidrogénio tem aqui um papel importantíssimo e nós temos acompanhado, desde que o Governo aprovou a Estratégia Nacional para o Hidrogénio, de perto esta temática. Temos tido contacto por parte de alguns investidores, que pretendem instalar em Sines algumas unidades, mas neste momento não passam de intenções, não temos dados em concreto”.

Note-se que o hidrogénio verde produz-se fazendo passar energia pela água através de um catalisador, e porque essa energia tem de ser de fontes renováveis, são precisos muitos painéis solares, estando o presidente ciente de que são necessárias “áreas enormes”.

“Isso é um trabalho que está a ser desenvolvido por vários departamentos do Governo português, em conjunto com as autarquias”, estando envolvida a autarquia de Sines mas também a de Santiago do Cacém, “uma vez que são necessárias grandes áreas”, afirma.

Nuno Mascarenhas admite que Sines não é um município muito grande, pelo que “obviamente” precisa que os municípios “em redor” tenham também muitas dessas centrais fotovoltaicas. “Existe de facto um trabalho que está a ser feito, coordenado pela secretaria de Estado da Energia, e estamos em crer que dentro de relativamente pouco tempo deve existir novidades relativamente a esta matéria”, diz.

O responsável contou ainda que Sines tomou medidas para evitar que o concelho fosse submerso por painéis solares, ainda que mesmo assim existam muitas áreas disponíveis, num total de dois mil hectares, que podem ser usados para instalar centrais fotovoltaicas.

Nas energias renováveis o presidente da Câmara diz existirem “em carteira” quase uma dezena de projetos, alguns praticamente aprovados, outros em vias de licenciamento. Mas porque quer mais desenvolvimento para o concelho, ao autarca não lhe bastam centrais fotovoltaicas, diz que os painéis solares devem ser mesmo produzidos em Sines.

“Estamos a falar com várias empresas nesse sentido, e os projetos neste momento que estão em causa são projetos muito interessantes. Alguns de produção de hidrogénio, outros que também produzem amoníaco, e todos eles são importantes para substituir aquilo que foi o encerramento da central termoelétrica”.

O autarca refere-se ao encerramento, em janeiro passado, da central termoelétrica de Sines. A central que durante anos produziu energia elétrica a partir do carvão e aqueceu a praia de S. Torpes ainda lá está, mas agora parada, em vias de começar a ser desmantelada.

O presidente recorda que ficaram no desemprego 400 trabalhadores, mas acredita que grande parte dessa mão de obra será absorvida pelo “cluster” do hidrogénio, mas também por outras áreas que vão ser desenvolvidas, seja no incremento do próprio porto de Sines, seja noutros setores.

Sines “atravessa um momento de viragem”, há investimentos a decorrer na área do turismo, na área do digital o cabo submarino que ligará em breve Portugal ao Brasil (entre Fortaleza e Sines) vai permitir instalar por exemplo “alguns ‘data center’”, sem falar do próprio hidrogénio e de indústrias que podem ser agregadas.

Nuno Mascarenhas reconhece ainda que “um projeto único pode criar cerca de 800 a 900 postos de trabalho, não estou a falar de um projeto relacionado com o hidrogénio, falo de outro, mas diz bem da dimensão daquilo que está neste momento em causa e que seguramente nos próximos tempos iremos ter novidades a esse respeito”.

Quanto ao sítio onde se vão localizar os grandes projetos do hidrogénio, o autarca diz que é uma “decisão da EDP”, um dos anunciados grandes investidores, mas acredita que pode ser o espaço da central termoelétrica, até pela proximidade do mar, ainda que na zona industrial haja também “uma capacidade de instalação enorme”.

Adicionalmente, o presidente garante que Sines tem condições “excelentes” para receber todo esse investimento, e que, por ele, o investimento que venha “já amanhã”, que se comece a produzir hidrogénio e que se comece a exportar pelo porto de Sines, que “tem todas as condições para exportar o que quer que seja” para a Europa e para o mundo.

E não o assusta os eventuais riscos associados à produção e armazenamento de hidrogénio, lembra os grandes tanques de gás natural liquefeito, salienta o grande investimento na área da segurança. “Acreditamos que Sines pode continuar a ter um papel muito importante na energia que é produzida em Portugal, mas sobretudo naquela que também é exportada”.

 

Fotografia de jornaloleme.com