18 Junho 2016      09:18

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SILÊNCIOS ESTRONDOSOS...

"PENSAMENTOS POLÍTICOS"

em torno do eventual encerramento da unidade de neonatologia com cuidados intensivos neonatais em Évora.

A nova rede nacional de referenciação materna e da criança se for para a frente tal como está definida na Portaria n.º 147/2016, de 19 de maio, o Alentejo vai ficar sem a unidade de cuidados intensivos neonatais muito em breve. Em termos práticos, a eventual aprovação da referida Rede terá como consequência que a região do Alentejo deixará de ter uma unidade de neonatologia com cuidados intensivos neonatais. Esta situação implicará que bebés prematuros com muito baixo peso, com 700 ou 800 gramas, tenham que ser transferidos de ambulância para Lisboa.

Esta matéria está claramente evidenciada na Portaria n.º 147/2016, de 19 de maio, que se encontra em processo de consulta pública, até 30 de junho de 2016.

Até ao presente, a referenciação processa-se para o Hospital do Espírito Santo de Evora, o qual constitui um hospital de apoio perinatal diferenciado, cuidando e prestando cuidados de saúde a recém nascidos a partir das 24 semanas de gestação.

Ora, com a nova proposta, todos os recém-nascidos com idade inferior a 32 semanas deverão ser transferidos para Lisboa, sendo o Alentejo a única região do País a ficar sem unidade de apoio perinatal diferenciado.

Por outro lado, a aprovação da Rede proposta implicará que todas as crianças residentes no Alentejo que necessitem de cuidados cirúrgicos, seja um freio da língua curto, uma apendicite ou um hidrocelo, sejam transferidas para Lisboa.

Note-se que esta unidade, apesar de funcionar no Hospital Espírito Santo em Évora, serve toda a região Alentejo (a qual representa cerca de 1/3 do território português).

Mais grave são mesmo as razões apontadas para o encerramento, as quais passam não só pela baixa natalidade no Alentejo (já inferior a três mil nascimentos por ano), mas também pelo facto de haver uma auto-estrada para Lisboa.

Importa ter presente que, atualmente, existem dois cirurgiões pediátricos (um a tempo inteiro e outro a tempo parcial) que fazem intervenções cirurgicas, referenciando apenas os casos mais complexos para os hospitais com maior diferenciação.

Ao que acaba de se referir acresce, ainda, que a Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais do Hospital do Espírito Santo de Évora, E.P.E, é unanimemente reconhecida como um serviço de altíssima qualidade prestado no Alentejo, circunstância que contribui para a estranheza da referida proposta.

Pelas razões apresentadas, tornam-se claramente infundadas as pretensões apresentadas na referida Portaria.

É inadmissível que esta situação possa ocorrer numa região com as especificidades do Alentejo.

Estranha-se todo o silêncio que tem havido sobre este assunto por parte de outras forças políticas. Lembro a berraria que houve na região quando foi anunciado o encerramento de repartições de finanças pelo anterior Governo. Situação, essa, que estava inscrita no Memorando de Entendimento assinada pelo Governo de José Sócrates com a Troika, e que o Governo da Coligação do PSD/CDS não executou. Agora que estamos perante uma situação muito mais grave, de um serviço de excelência na região que corremos o risco de perder, não sabemos qual o pensamento das outras forças partidárias sobre esta matéria.

Silêncios muito estranhos!

 

(artigo escrito a 16 de junho)

 

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