26 Novembro 2022      12:12

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Semeando ventos e querendo PIB

As mais recentes previsões de outono da Comissão Europeia para 2024, no que concerne ao desenvolvimento económico da União Europeia, não são animadoras para Portugal. Não digo que sejam chocantes. São alarmantes, graves, não são boas. Não são, de todo, uma boa notícia, mas estavam ou estão à espera de milagres?

As previsões revelam que Portugal será ultrapassado pela Roménia no ranking de desenvolvimento económico da União Europeia, atingindo o 19º lugar deste ranking com o PIB per capita a bater nos 79% da média europeia; já Portugal, baixa para o 20º lugar, com um PIB per capita equivalente a 78,8% da média europeia.

Mas creio que o problema, a causa, é bem mais profunda que qualquer medida financeira, lógica governativa, até ideológica; o problema é cultural; é social; é educacional.

Falta uma maior produtividade, maior rigor, competência, profissionalismo, brio a nível individual, e essa lacuna tem um reflexo óbvio e majorado no coletivo.

Usualmente ouve-se que "há metade a trabalhar e metade sem fazer nada". Tantas vezes se ouve, tantas vezes se vê e sente, que parece ser natural. É Portugal... somos assim. O problema é este, dar-se como normal, natural, que uma parte não faça aquilo para que é pago para fazer.

Muitas vezes a procura da solução é o caminho ainda mais errado: espremem-se os que fazem até à exaustão para compensar aqueles que se sabe que não farão a sua parte, ou que não garantem qualidade na feitura.

Este ação é ainda mais destrutiva da produtividade que se deseja, criando ainda mais problemas laborais, baixas e acabando de vez com o clima colaborativo que devia existir. É aqui que o PIB começa a diminuir, ou melhor, a não crescer.

Uma vez mais a solução está na Escola, e só a Educação, a médio-longo prazo, o pode alterar.

Mas, para isso, a Educação merece mais atenção e cuidado. Não se lhe pode atribuir uma lógica de despesa, mas sim de investimento. Devem ser ouvidas as bases e criar-se uma reforma educativa de fio a pavio, a longo prazo, estável e consensual entre forças políticas e intervenientes educativos.

Dá trabalho, é uma missão difícil, custará investimento, mas o preço que se paga por nunca se ter feito é cada vez maior, e não é só no plano económico, é também no social.

As medidas ad doc que por aí se vão comentando só vão promover o compradrio, o lambe-cuzismo e não a qualidade. Depois não falem do PIB. Diz a sabedoria antiga: “Quem semeia ventos...”

 

Imagem de hippopx. com