18 Junho 2022      10:33

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Saúde – há muito que o rei vai nu

Segundo notícias bem recentes, a falta de médicos e enfermeiros nos serviços de obstetrícia e ginecologia está a afetar a mortalidade materna. O alerta foi dado há poucos dias atrás pela Associação Portuguesa pelos Direitos da Mulher na Gravidez e no Parto, numa altura em que a Associação Europeia de Medicina Perinatal define a situação da obstetrícia em Portugal como “muito preocupante”.

A referida associação tem vindo a alertar para este problema desde há dois anos atrás, dando nota que a falta de profissionais nos serviços já está a começar a afetar também a mortalidade infantil.

A falta de médicos está a provocar fortes constrangimentos nas urgências hospitalares. Recentemente tivemos serviços encerrados, como foi o caso da urgência da maternidade do Hospital de Loures e de Braga. A situação é também problemática nos serviços de obstetrícia de outros hospitais, como o de Setúbal ou de Santarém. Relatos de outros hospitais também são alarmantes.

Mas os exemplos não ficam por aqui. Na Guarda não houve urgência de ortopedia e em Portimão falhou a pediatria. Segue-se Portalegre, etc, etc, etc.

A situação só não é mais dramática graças aos profissionais de saúde, que têm sido permanentemente resilientes e têm assegurado a prestação de cuidados pelo seu esforço adicional, muitas vezes ultrapassando os limites das suas capacidades. Honra lhes seja feita!

Uma coisa é certa, pouco tem sido feito em defesa do Serviço Nacional de Saúde – SNS. O Governo que apregoa permanentemente a defesa do SNS, é quem mais o destrói! A falta de capacidade em fixar os profissionais no Serviço Nacional de Saúde e o desinvestimento neste fundamental setor, são a principal causa da sua deterioração. Evidentemente que a falta de capacidade de resposta e a degradação das condições de trabalho dos profissionais abrem espaço à expansão da oferta privada.

Apostar no SNS significa garantir carreiras atrativas, valorização salarial, mais equipamentos e investimento. Pouco tem sido feito. Apenas propaganda e mais propaganda!

Na minha opinião, o Governo tem sido claramente incompetente na gestão do Serviço Nacional de Saúde.

Há muito que se repetem as notícias sobre problemas nos serviços públicos de saúde em Portugal. Para além da falta de capacidade de resposta e da degradação das condições de trabalho, existem outras causas geradores desta problemática:

1 -  Os meios financeiros atribuídos pelo Orçamento do Estado às unidades prestadoras do SNS são desajustados;

2 - Gestão burocrática, altamente instrumentalizada e nada orientada para resultados;

3 - Falta de autonomia, sobretudo ao nível das unidades hospitalares;

4 – Falta de uma cultura de meritocracia e de estímulo ao envolvimento dos profissionais de saúde.

Há muito que se discutem estes problemas, no entanto todos eles têm vindo a agravar-se significativamente. Resultado? É preciso serem bem evidentes as ruturas, para ser dada uma visão bem clara de toda esta problemática.

Há muito que se tenta disfarçar o problema, mas quando o rei vai nu, mesmo àqueles que têm os olhos vendados, significa que a situação ainda é mais grave do que parece.