Por Giuseppe Steffenino
Confesso que muitas vezes sinto saudade. Não pela sensação de que a vida, no passado que conheci, era melhor ou mais feliz. Não para cabines telefónicas, motocicletas com rodas raiadas de metal, máquinas de escrever, mapas de estradas, filmes fotográficos analógicos, cabines de proteção cinematográficas, rádios transistores ou outros objetos cotidianos que desapareceram do nosso cotidiano.
É antes uma espécie de nostalgia por não ter, perdoe-me Pessoa se me aproximo de paradoxos de que ele - com os seus improváveis subjuntivos - era mestre. Ou, mais provavelmente, não se trata de nostalgia, mas sim de aborrecimento causado pela enorme e crescente população de objetos, serviços e entidades que nos vemos propondo, muitas vezes com arrogância. Ou talvez ambos. Se ouço ou vejo um anúncio de um café, uma massa, uma linha de roupas ou óculos, não tenho sentimento. Devo explicar que não é uma questão de impaciência linguística: conheço bem o inglês e falo, leio e ouço-o com prazer. Mais, se aparece o food designer, o food blogger, o outfit influencer, o personal fitness trainer, wedding planner, event manager ou o eyewear stylist, sinto uma forte nostalgia de um tempo não remoto em que, a inconsciência da sua ausência não era motivo de infelicidade para nós.
Ou talvez estivéssemos infelizes sem saber porquê.
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Giuseppe Steffenino, natural do noroeste da Itália, está ligado a nós pela admiração que ele tem a Portugal e ao Alentejo em particular, onde, com a sua companheira, Manuela, foram salvos de um afogamento numa praia o ano passado. Aqui e ali a pandemia está a mudar a nossa maneira de viver e pensar. Esse médico com barba branca, apaixonado por lugares estrangeiros e um pouco idealista, interpreta este tempo curvo, oferecendo-nos os seus sonhos, leituras, viagens, lembranças, pensamentos, perguntas, etc.
Imagem de lavocedellaristorazione .it
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