28 Outubro 2020      09:38

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Salário Emocional como forma de Reter Talento

Num mundo de trabalho cada vez mais volátil no que diz respeito à empregabilidade, não deixa de ser irónico que um dos maiores desafios colocados às Organizações nesta fase seja a retenção de talento. Por outras palavras, existe uma enorme dificuldade das empresas em garantir a continuidade dos seus melhores colaboradores, normalmente assim designados pela sua capacidade de trabalho e envolvência acima da média com a empresa. São pessoas que deixam uma marca na função e na empresa, e como seria de esperar, são raros e extremamente difíceis de encontrar.

Quando o salário não é suficiente

Nos últimos anos, e fruto desta crescente dificuldade em reter o talento nas empresas, tem-se adensado o debate em torno do impacto do salário na satisfação dos colaboradores. Frederick Herzberg foi um influente psicólogo e gestor que teorizou sobre a satisfação em contexto profissional, e referiu que existem fatores que conduzem à satisfação (a que chamou fatores motivadores), e outros que impactam na insatisfação (aos quais chamou fatores higiénicos). Concluiu que o salário conduz tendencialmente à insatisfação ou, na melhor das hipóteses, a uma “neutralidade” no que diz respeito à satisfação. A parte curiosa desta teoria está nos fatores motivadores, e que têm sido corroborados pela resposta que o próprio mercado tem dado em relação a este tema. O equilíbrio entre o trabalho e a família, o plano de incentivos, a progressão na carreira, a formação técnica e profissional contínua e o bom ambiente de trabalho têm sido apontados como fatores que impactam de forma muito positiva na satisfação no trabalho, e que hoje fazem parte de outra categoria de salário: o salário emocional. Este não consta no recibo de vencimento, e corresponde a um complemento ao salário que é oferecido pela empresa.

Como sugere o palavrão, o salário emocional está associado às emoções, algo que o dinheiro não pode comprar e, por isso, os fatores que despertam emoções positivas promovem a satisfação no trabalho, reduzem a rotatividade e aumentam a eficiência, algo que atrai cada vez mais as empresas e os colaboradores.

Estou convencido! O que posso fazer?

Antes de mais, é cada vez mais evidente que as empresas precisam de reter talento para garantir uma resposta mais eficaz às exigências da crise gerada pela pandemia, e que para atrair os melhores talentos, devem garantir uma imagem atrativa no mercado. Ter políticas de recursos humanos que promovam o salário emocional ajuda ao cumprimento deste objetivo. Deve ser colocado em prática um ambicioso plano, muitas vezes de profundas mudanças na Organização, que permita aos colaboradores ter uma emoção positiva quando pensam no seu trabalho e empresa. Deixo alguns exemplos do que pode ser feito pelas empresas para promover o salário emocional dos colaboradores:

  • Facilidade na comunicação entre colaboradores e superiores
  • Visão clara dos objetivos da empresa
  • Programas de gestão e desenvolvimento de carreira
  • Programas de teambuling/atividades que promovam o espírito de pertença ao grupo
  • Flexibilidade na rotina de trabalho
  • Avaliação de desempenho estruturada, com feedback construtivo
  • Programa de incentivos ao desempenho

A complexidade do mercado de trabalho obriga a que haja uma maior preocupação com políticas estruturadas de recursos humanos. Isto permite às empresas, entre outras mais-valias, reter os seus maiores talentos e ser mais competitivas, característica essencial para se garantir a sobrevivência nesta fase tão crítica dos dias de hoje.

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Sobre o autor: Duarte Meneses é natural de Lisboa mas cedo se apaixonou por Évora e é lá que hoje reside. Licenciado em Psicologia com especialização em Psicologia do Trabalho, é atualmente aluno de Mestrado em Gestão na Universidade de Évora. Trabalhou como Consultor de Recursos Humanos em Portugal e Angola, e atualmente é Gestor de Recursos Humanos em empresas agrícolas da região.