13 Novembro 2017      11:37

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RESPEITO PROFISSIONAL

Esta semana, no seu espaço televisivo, uma Advogada proferiu sérias e graves acusações contra os advogados oficiosos (advogados que aceitam clientes que não têm económicas e que são pagos pelo Estado).

Segundo esta Advogada, estes colegas não terão as mesmas capacidades que “os outros” advogados porque, parafraseando a Advogada, “não sabem ler as alíneas todas”.

Após a reacção de vários colegas veio a Advogada apresentar o seu pedido de desculpas alegando que também ela já fez oficiosas quando achava que devia ajudar, numa declaração que veio piorar ainda mais as declarações iniciais.

Também eu sou Advogada, já fiz oficiosas e este ano voltei a inscrever-me no concurso. Quando não me inscrevi foi porque os contratos que me vinculavam não me permitiam e não porque achasse que não era altura de ajudar.

Tal como muitos Colegas que conheço, tratei todos os casos de nomeações oficiosas como o caso de qualquer cliente que entre no meu escritório a solicitar os meus serviços.

Tal como muitos Colegas, aprendi a “ler as alíneas todas” graças não só à formação na Universidade, mas essencialmente aos meus patronos de estágio e a todos os Colegas que me ajudaram e ajudam neste percurso e que me ensinaram a tratar todos os casos e clientes da mesma forma.

No Direito, tal como em todas as áreas existem bons e maus profissionais agora colocar a barreira distintiva de competência no facto de colegas de profissão estarem ou não inscritos no apoio judiciário é não só um claro desrespeito para com colegas de profissão, mas também uma violação clara dos deveres deontológicos inerentes ao exercício da profissão.

Talvez a Advogada se tenha esquecido que há colegas que estão inscritos no apoio judiciário que têm muitos mais anos de profissão e experiência que ela e que, inclusivé, terão lido muito mais alíneas que aquela.

Uma das pessoas que mais me ensinou no início do meu percurso profissional sempre me disse: “Há advogados que são Colegas e depois há aqueles que são apenas advogados”. Hoje entendo perfeitamente o significado destas palavras.

Imagem de capa de Mariline Alves/CM