2 Outubro 2022      09:51

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Regresso (pouco) Socialista

A vida política foi a banhos com a esperança de um bom pacote de medidas do governo Socialista para o combate à inflação de nível mundial resultante da guerra na Ucrânia.Pelo meio, tivemos a festa do Avante, novamente alvo de ataques pavlovianos pela opinião pública e publicada, chegando até às ameaças aos artistas, por causa da posição equidistante de crítica do partido face a Putin e Zelensky (mal ao bem não é o tema).

Durante o Verão tivemos episódios dantescos de incêncios, com o parque natural da Serra da Estrela como maior vítima. Tivemos também os serviços de obstetrícia de vários hospitais a sofrerem fechos esperados por falta de especialistas que substituíssem os colegas no período das férias. Marta Temido pediu a demissão e desta vez consegui-a. Foi nomeado Manuel Pizarro como ministro da Saúde e Fernando Araújo como Diretor Executivo do SNS, ou CEO, um termo demasiado empresarial para um SNS público e que levou a fortes elogios a este novo orgão por parte da IL, o que nos deve preocupar... É passada a mensagem que o busílis da questão não é a falta de dinheiro mas a não alocação correta desse mesmo. Mas se a questão dos tarefeiros expôs as diferenças salariais entre um efetivo no SNS e um colaborador externo, será de esperar que o caminho de um jovem médico seja o de não se vincular ao serviço e trabalhar como tarefeiro, daí a necessidade de uma valorização salarial séria que cative os profissionais a optarem apenas pelo SNS. Uma maior autonomia também é necessária, tal como no ensino, pois as instituições estarem à espera do estado central para proceder às contratações leva à sangria dos profissionais  para o privado.

As expectativas nas medidas para o combate à inflação rapidamente saíram goradas. Como sempre Portugal está na cauda da rapidez na tomada de medidas, e quando muitos Socialistas esperavam por um imposto extraordinário sobre os lucros caídos do céu para certas empresas, nomeadamente no ramo da energia, o Estado caiu num estado de letargia. Aguarda por decisões europeias, quando a própria Von der Leyen afirma que não é justo estes lucros caídos do céu. E de facto, se António Costa foi inexorável quanto aos aumentos salariais a niveis da inflação devia ser também implacável quanto a estes aumentos inesperados dos lucros, mas não. O imposto provavelmente surgirá, quando muitos outros países Europeus pouco socialistas já o tiverem imposto. Com niveis de inflação a rondar os 7 ou 8% e aumentos para a função pública que não ultrapassarão os 2 ou 3% serão sempre os mesmos a perder poder de compra. Para um partido que se diz de esquerda não se compreende tamanha prudência para o aumento do poder de compra, quando defendeu esta solução aquando do período da Gerigonça. E aqui recai a maior injustiça neste pacote de medidas, os pensionistas. Um grupo que se vê sempre como principal alvo aquando períodos de crise vê-se novamente com truques de bastidores.

António Costa afirmou, em Junho (já com níveis de inflação elevados) que não via razões para não cumprir a lei que defende que os pensionistas devem ter aumentos salariais de acordo com a inflação, e poucos meses depois deixou claro que esses aumentos não iriam ocorrer. Ofereceu meia pensão já em Outubro, mas uma redução para metade, não de 8% da inflação, na % dos aumentos para 2023, ou seja em 2024 o valor do aumento será com base numa % menor do que a seria esperada caso o aumento das pensões fosse de acordo com a lei. Como a política se faz de jogos mesquinhos, o PSD apressou-se a fazer comparações com o período da Troika, afirmando que as reduções que não chegaram a ocorrer estavam a ser impostas pela Troika e não como neste caso, por livre vontade. O grave é, que ao PSD já não chega o discurso das contas certas pois o PS apoderou-se dele, e como o PSD faria o mesmo perde espaço na oposição. Uma vez mais os partidos à esquerda precisam de se deixar de ignomínias internacionais pois têm aqui oportunidade para desmascarar este PS, uma vez que assim se vê pouco à esquerda que é, pois em períodos de crise é que se deveria ver uma real diferença para o PSD, ser irredutível perante lucros extraordinários e canalizá-los para o Estado Social.

 

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Alexandre Carvalho tem 24 anos e é natural do Porto. Licenciado em Comunicação Empresarial pelo ISCAP, ligado ao ramo do design de interiores e da vertente digital. Interessado pelo panorama da política nacional conta vir viver para o Alentejo, porque se enamorou por uma alentejana

alexandremiguel.c95@outlook.com