23 Abril 2020      17:46

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Regresso ao Futuro

Falta cerca de uma semana para o início de um lento e gradual regresso. Não sabemos como será este regresso, nem para aonde. Sabemos que não será um regresso ao passado, porque o passado como o conhecíamos já não existe, e possivelmente ainda bem. Sabemos que não será um regresso à normalidade, como tem sido vendido, porque o que chamávamos de normal desapareceu. Não sabemos como será o novo normal. As crises são momentos de mudança. Mudarmos para melhor ou para pior já depende de nós. E este vírus mudou o mundo inteiro, de uma só vez.

Nos Estados Unidos, estão a ser pedidas mudanças na segurança laboral e no acesso à saúde. Aquela que é a maior economia do mundo há 148 anos tem sido inflexível nestes aspetos. Não sabemos se o novo equilíbrio de forças será suficiente para permitir algumas alterações.

Na União Europeia, está a haver um extremar de posições entre nacionalistas e europeístas, e possivelmente ambas as visões sairão reforçadas da crise. Esperemos, por todos os motivos, que a segunda consiga vencer a primeira.

Na China, as mudanças serão mais difíceis. As ditaduras são naturalmente mais resistentes à mudança. O encerramento definitivo dos mercados de animais selvagens era o mínimo que se poderia esperar neste momento. Infelizmente, isso ainda não foi conseguido. A proibição decretada no final de fevereiro deixou de ser levada a sério no final de março. Um negócio que envolve 20 mil empresas e 14 milhões de trabalhadores não acaba por decreto, nem numa ditadura. Mas não podemos perder a esperança na grande economia que mais tem crescido em todo o mundo. Mal seria.

Costumo ser criticado por me esquecer das boas notícias. Reconheço o vício. E hoje há boas notícias, muito boas até. A única verdadeira luz ao fundo do túnel, a que nos permitirá viver a vida de uma forma mais próxima daquela que durante décadas demos por garantida, a vacina contra a covid-19, pode estar afinal menos distante do que julgávamos. Os 12 a 18 meses inicialmente previstos podem vir a ser bastante encurtados. Com 70 vacinas e tratamentos em estudo, várias equipas de investigação iniciaram ou estão prestes a iniciar testes em humanos: a CanSino Biologics, em Hong Kong; a Moderna e a Inovio Pharmaceuticals, nos Estados Unidos; a Universidade de Oxford, no Reino Unido. Mas as equipas mais ambiciosas foram a do BioNTech, na Alemanha, e a do Hospital Universitário de Berna, na Suíça, que prometeram vacinas prontas a produzir em larga escala já nos próximos meses de setembro e outubro, respetivamente. Esperemos todos que as boas notícias se confirmem.