21 Agosto 2022      10:40

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Que ilações podemos tirar de um fracasso?

Em muitas circunstâncias da vida, somos confrontados com situações em que, apesar do nosso empenho, dedicação, sentimento ou mesmo sacrifício, não conseguimos alcançar o que tínhamos em mente, quando iniciámos uma determinada jornada.

Porém, para os que nos rodeiam, a perspectiva pode ser diferente. Aos olhos dos outros, o nosso fracasso pode derivar do facto de não termos sido suficientemente competentes na forma como encaramos esses desafios, sejam eles pessoais ou profissionais.

As expectativas que criámos e que outros criaram em relação a nós podem ser sempre defraudadas, porque invariavelmente esperamos sempre mais e esperam sempre mais da nossa prestação.

A percepção sobre cada situação em concreto depende sempre de muitos factores, uns mais subjectivos que outros, e das circunstâncias que envolveram os desfechos porventura mais inesperados ou negativos.

Em qualquer dos casos, há sempre que dar a mão à palmatória e reconhecer, com a frieza possível, as falhas e as lacunas relativamente a projetos ou relações que a determinados momentos assumimos como fundamentais para as nossas vidas e que lamentavelmente não nos correram de feição.

Essa reflexão é essencial e ajuda-nos, num horizonte temporal mais largo, a identificar as situações ou momentos em que não fomos suficientemente capazes de lidar com as adversidades e imprevistos.

No início de cada caminhada, tudo pode parecer perfeito, mas à medida que o tempo passa, as fragilidades vão-se manifestando, os obstáculos surgem , a capacidade de adaptação a novas rotinas torna-se menor e a tolerância corre o risco de perder-se.

O segredo do sucesso talvez seja conseguir manter a imunidade relativamente a todas estas ameaças, embora saibamos de antemão que muito dificilmente isso será possível. A nossa condição de humanos torna-nos vulneráveis e por vezes pouco resistentes a tamanhas provações. O desgaste surge, mais cedo ou mais tarde e alimentar a nossa tenacidade pode ser a chave do sucesso, para que o ânimo não se perca definitivamente. Porém, uma percentagem significativa de objetivos que tínhamos traçado fica infelizmente pelo caminho. Não sendo uma regra universal, as excepções acabam por ser em número reduzido.

Quando assim é, há que reconhecer, com humildade, que as nossas falhas ou omissões também contribuíram para que o sucesso se tornasse inalcançável. O problema é que também em muitos casos, a nossa visão fica turva e temos a tendência de passar para os outros a culpa do nosso infortúnio, num processo de vitimização que só para nós faz sentido e onde os rancores e os desejos de vingança podem surgir a cada esquina.

Não há como negar. Nunca vai haver só um responsável, nem sequer uma só vítima. Há que saber reconhecer as culpas, sem apontar os dedos, assim como compreender os factos e circunstâncias que condicionaram as metas que tínhamos em mente e que nem sempre conseguimos controlar.

Assumir um fracasso significa aceitar as nossas limitações, mas simultaneamente proporciona uma aprendizagem, desde que a queiramos fazer. Implica recomeçar, saber lidar com a dor e com a ausência, mas ter também a esperança de que dias melhores poderão chegar e novos sonhos poderão surgir. A dureza desse reconhecimento passa uma elevada factura, mas a idealização de novos projetos é essencial para o nosso futuro.

As mudanças fazem parte das regras do jogo. Se possível, devemos encará-las com naturalidade e reconhecer que na vida de todos nós, elas surgem nos momentos menos esperados. Resta-nos adaptar às suas consequências e tentar dar o nosso melhor a cada dia, sabendo de antemão que, apesar dos riscos, o caminho continua, ainda que com contornos diferentes.

Partir das ruínas para iniciar um novo trajeto implica muita coragem e os fantasmas do medo, da insegurança e da solidão podem pontualmente limitar as nossas ações. O segredo estará na criação de novos desígnios, através de uma atitude positiva perante a vida e perante os que nos rodeiam e esse é também um sinal de maturidade. Amanhã, estaremos seguramente mais confiantes, mantendo inabalável a nossa esperança num futuro mais risonho.