19 Março 2018      09:52

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"Quatro tiros calaram-na. Quatro tiros deram-lhe mais voz."

Esta é uma das frases da jornalista do Expresso Christiana Martins numa peça dedicada ao homicídio de Marielle Franco num atentado que vitimou também mortalmente e feriu uma das suas assessoras.

Marielle era vereadora do Rio de Janeiro, tendo entrado para a política na sequência do homicídio de uma amiga sua.

Tendo sido a sua intervenção uma constante, nas últimas semanas foi uma das vozes que se levantou quanto à atribuição de poder de vigilância e segurança à polícia militar.

Dias antes da sua morte, Marielle tinha feito a seguinte publicação nas redes sociais: “Mais um homicídio de um jovem que pode estar entrando para a conta da polícia militar. Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?”.

Poucos dias depois, balas da polícia federal brasileira são encontradas no local em que Marielle foi assassinada. Temer já veio dizer que será tudo devidamente investigado. Mas será mesmo?

Não deveria ser ele próprio a questionar a sua própria medida de atribuição de poder à polícia militar?

Este é o sentimento comum a muitos cidadãos brasileiros que actualmente abandonaram o País numa tentativa de encontrar segurança para si e para as suas famílias.

A polícia dispara primeiro e pergunta depois, subindo de dia para dia o número de pessoas que são apanhadas no meio destas intervenções policiais.

O Brasil está neste momento em Estado de sítio. Corrupção governativa por um lado e violência entre militares e criminosos por outro.

A voz de Marielle continuará a fazer-se ouvir. Não apenas por ser mulher, negra ou lésbica mas sim por ter sido vítima de um verdadeiro atentado contra a liberdade de expressão e a luta por um Brasil mais seguro onde as famílias não sejam obrigadas a chorar a morte injusta de mais um dos seus.

Entre militares e criminosos a violência só trará ainda mais violência e ainda mais mortes e atentados contra aqueles que denunciam o que se passa no Brasil.

Milhares de pessoas já se mostraram contra esta medida do Presidente.

Temer falou mas não convenceu.

Quatro tiros foram disparados.

Quantos mais serão?

Imagem de capa de veja.abril.com.br