19 Maio 2021      13:05

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Projeto de hidrogénio verde em Sines não vai ter consórcio

O projeto H2 Sines, cuja viabilidade estaria a ser estudada por um grupo de empresas como a EDP, Galp, Martifer, REN e Vestas, não deverá concretizar-se em formato de consórcio, avança o Dinheiro Vivo.

Em declarações ao jornal, fonte ligada ao processo admitiu que “ainda estamos dentro do contexto de avaliação do projeto, mas a probabilidade de vir a cair é grande”, afirmando que o que está em causa são “leituras distintas” das empresas face à visão do governo para o projeto. A vertente exportadora que o Executivo pretendia imprimir ao investimento em Sines, criando uma cadeia de valor para a exportação para o Norte da Europa, parece ser um dos pontos de desacordo.

Contudo, o hidrogénio verde, enquanto aposta estratégica para a descarbonização dos transportes e da indústria, não está em causa. Segundo o Dinheiro Vivo, tudo indica que cada uma das empresas venha a avançar com os seus próprios investimentos nesta tecnologia, ainda embrionária, mas que todos acreditam que tem um grande potencial na próxima década.

Note-se que a REN, na passada sexta-feira, apresentou o seu plano estratégico 2021-2024, dando conta que prevê investir 40 milhões de euros, neste prazo, para a compatibilização da rede de gás com a injeção de hidrogénio. “Temos em concreto e para o horizonte desta estratégia um investimento de 40 milhões de euros, dos quais 15 milhões estão associados a projetos na rede de gasodutos e 25 milhões de euros na concessão da REN armazenagem, para o Carriço”, indicou o administrador executivo da REN, em conferência de imprensa, sem fazer qualquer referência ao projeto H2Sines.

Quanto à EDP, o valor a investir é de igual grandeza. Na apresentação do novo plano estratégico para 2021-2025, o CEO Miguel Stilwell de Andrade explicou que a empresa pretende 250 megawatts de eletrolisadores, que levarão a um investimento adicional de 0,5 a 1 gigawatts (GW) em renováveis, tendo já em desenvolvimento, “a nível global”, cerca de duas dezenas de projetos nesta área. Stilwell disse ainda que o hidrogénio verde “vai ‘explodir’” na segunda metade da década, e defende que a EDP está “bem posicionada” para tirar partido disso.

Já a Galp não quantificou ainda os seus investimentos nesta área, mas fonte da petrolífera sublinhou que “a Galp mantém todo o interesse e empenho no hidrogénio verde”, recusando, porém, “neste momento, fazer qualquer comentário em relação ao projeto H2Sines”.

Se cada empresa investir por si mesma, a dimensão global do investimento a realizar ficará provavelmente longe dos 1,5 mil milhões de euros previstos pelo consórcio H2 Sines. Mas a subsidiação ao projeto será igualmente menor.

De acordo com diversas fontes, o descontentamento prende-se pelas verbas disponibilizadas pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para o hidrogénio verde, no valor global de 185 milhões de euros. “O Governo aposta muito pouco da bazuca nestes projetos comparativamente com outros países”, referem.

Outra fonte sublinha que os potenciais parceiros estão em fase de discussão da distribuição de participações, o que poderá gerar algum descontentamento. Contudo, mostra-se confiante no projeto: “Portugal e Espanha vão ser os grandes produtores de energia na Europa e esse é um bem único”.

O H2 Sines é um dos 37 projetos aprovados para integrarem uma participação no futuro Projeto Importante de Interesse Europeu Comum (IPCEI) para o hidrogénio, que o Governo pretendia apresentar a Bruxelas até ao final do ano.

A Comissão Europeia vai, então, valorizar as candidaturas ao estatuto IPCEI para o hidrogénio que agreguem um maior número de países, sendo que Portugal tem já um Memorando de Entendimento assinado com a Holanda, para produzir hidrogénio em Sines e exportá-lo para o Porto de Roterdão.

 

Fotografia de regiao-sul.pt