26 Fevereiro 2023      12:12

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Potencialidade espanhola

Por Alexandre Carvalho

O paradigma da gestão pública sobre o Interior deve mudar, pois se temos tanta gente a viver em espaços cada vez menores, seria útil investir-se para trazer essa gente de volta para o Interior. “Independentemente do local onde residem, todos os cidadãos estão sujeitos a idênticas obrigações fiscais, pelo que não é admissível que o acesso aos serviços públicos seja substancialmente diferente consoante se resida nas grandes cidades ou numa aldeia remota do interior” (Tavares, 2019).

Se o estado encerra uma escola, perdem-se os recursos humanos que trabalhavam lá e muitas vezes as famílias têm que se deslocar para mais próximo da nova escola. Se houver investimento a fundo perdido da parte do Estado para a permanência de muitos serviços públicos vamos dotar a região de classe média e não forçar a população a sair. No período Troika houve muitas fusões de freguesias o que se por o lado cultural se revelou um desrespeito por tradições ancestrais que se encontram enraizadas até na menor das vilas por outro foi uma continuação da mensagem de centralização e redução dos custos. Muitas das alternativas que podem surgir a esta fusão, são as parcerias intermunicipais. No Alentejo já desde há muito que existe este trabalho em rede. Se nos inícios do período democrático as principais finalidades eram a construção de estradas, redes de saneamento e abastecimento de água que servissem vários concelhos, hoje e num âmbito multinível muitos concelhos complementam a sua oferta histórica e cultural com a gastronomia do concelho vizinho. Depois as organizações do Turismo ou outras privadas do setor servem para representar a região em certames nacionais e internacionais. 

O Alentejo encontra-se geograficamente mais próximo de Madrid do que Lisboa, o que é uma potencialidade económica. Se houvesse uma linha férrea de alta velocidade, muitos municípios do Alentejo Central podiam ser um dormitório de Lisboa, visto que de Évora a Lisboa distam apenas 133 km. De igual modo chegar-se-ia a Madrid muito mais rapidamente o que traria muitos turistas. São estes atrasos estruturais no país que comprovam o esquecimento do interior, um país pequeno que deveria estar melhor servido de transportes públicos, e que está escrito que esta falta de transportes é uma das grandes explicações para a não deslocalização de pessoas e empresas, não havendo ligações ferroviárias a pelo menos todas as capitais de distrito. Começou-se apenas este ano a criar uma linha férrea de mercadorias que liga o porto de Sines, o mais movimentado da Península Ibérica, a Badajoz, o que se espera que possa vir a ser uma forma de reanimar a indústria dos minerais no Alentejo, se forem criadas várias estações ao longo da região. Se depois das mercadorias, for criada uma ligação de passageiros, então Évora, Elvas, Portalegre e Beja aproximam-se mais do resto do país e da Europa, o que permitirá entre outras coisas, a que mais jovens escolham as instituições de ensino superior da região.

(Continua…)

 

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Alexandre Carvalho tem 24 anos e é natural do Porto. Licenciado em Comunicação Empresarial pelo ISCAP, ligado ao ramo do design de interiores e da vertente digital. Interessado pelo panorama da política nacional conta vir viver para o Alentejo, porque se enamorou por uma alentejana | alexandremiguel.c95@outlook.com 

 

Imagem de CM Elvas