A recente polémica sobre as ligações familiares trouxe “a lume” uma realidade há muito evidente para quem conhece minimamente os meandros da política nacional. A hipocrisia de muitos comentários e declarações públicas revela afinal um passado em que tudo funcionava de igual modo.
Sejamos claros e objectivos: as nomeações para os amigos, correlegionários e família sempre foram em Portugal algo recorrente. É justo que assim seja? Penso que não. Deveriam existir outras normas de admissão para o desempenho de funções, que passassem sobretudo pela capacidade técnica e pelo currículo e experiência profissional. Ser amigo ou família não basta. É necessário ter competência.
Sempre houve muito pouca transparência no critério e nos requisitos para os cargos públicos. As escolhas para determinados lugares foi quase sempre feita para destinatários previamente definidos, que tivessem ligações aos partido do poder ou fizessem parte da esfera familiar ou do círculo próximo. As avaliações subjectivas é que ditavam (e ditam) os resultados finais.
Podemos olhar para os Municípios e muitas Instituições, públicas ou privadas, que todos conhecemos. Alguém é escolhido pelo seu mérito ou pela sua capacidade? São raros os casos. E este fenómeno é transversal a todos os partidos.
A competência e a qualidade raramente são recompensadas. Quem realmente se esforça e se dedica, tem que “suar” o triplo para poder evoluir em termos profissionais. E isto não é surpresa para ninguém.
Quantos de nós concorreram a concursos públicos, sabendo que o currículo dos escolhidos ficava muito aquém do exigido nos critérios de admissão? Uma pequena pesquisa permitia sempre saber qual o percurso ou a ligação dos eleitos para o lugar.
E quem são os felizes contemplados? Os “parasitas” que pululam à volta dos partidos, que em termos de provas dadas e de capacidade de trabalho, em nada contribuíram para o desenvolvimento das regiões ou do país, assim como os primos e “parentes”. E o que é que estes candidatos perdem? A sua independência e espírito crítico. Vão engolindo “sapos”, com muita frequência, para permanecerem fiéis a quem os escolheu.
É legítimo que os políticos escolham pessoas da sua confiança para determinados lugares, mas aquilo a que se assiste é eticamente reprovável. Em muitos casos, que todos conhecemos, nem sequer é exigida uma boa performance profissional prévia. Bastam apenas o cartão de militante ou os laços de sangue.
Na sequência da divulgação destes casos na comunicação social, a indignação instala-se, mas a impunidade mantém-se. A revolta manifesta-se nas redes sociais, mas tudo continua na mesma. Nada muda e possivelmente, nada mudará. É preciso legislar sobre esta matéria? Ou deveria existir uma “consciência coletiva” para a nomeações e escolhas, sabendo o que moralmente é aceitável ou não?
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