11 Julho 2022      10:57

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Portugal consome água de “dois Alquevas”

Pimenta Machado, vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA)

Portugal consome o equivalente a “dois Alquevas” de água anualmente, destinando-se cerca de 75% desta a rega na agricultura, onde é desperdiçado mais de um terço das reservas de água, anunciou o vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), Pimenta Machado.

As declarações foram feitas durante um fórum sobre a seca e o regadio, em Vila Flor, no distrito de Bragança. De acordo com a Lusa, o responsável alerta ainda que, em ano de seca, a situação é “dramática” em algumas zonas do país, com as reservas abaixo do normal. Para Pimenta Machado, a solução não passa apenas por construir mais barragens, mas também por resolver problemas de desperdício, indicando que “os sistemas de regadio desperdiçam mais de 35% da água”.

O vice-presidente explicou ainda que o setor da agricultura consome 75% da água utilizada no país e mais de um terço continua a ser desperdiçada em perdas no transporte, devido à antiguidade dos sistemas, muitos construídos nos anos de 1950, considerando que “o caminho é tornar os sistemas mais eficientes”.

“O que é preciso é modernizar os canais. Não faz sentido hoje que se perca água através do transporte, portanto a aposta é na eficiência, mas também em encontrar novas origens de água, por exemplo, usar águas das ETAR [Estações de Tratamentos de Águas Residuais] para lavar caixotes do lixo, ruas, regas de jardins”, afirmou Pimenta Machado.

Neste setor, o responsável destacou duas realidades no país, a sul do Tejo e no Nordeste Transmontano, onde, segundo disse, “a seca é estrutural e não uma questão de escassez de água”.

“O caminho é os setores serem mais eficientes, nós pedimos mais barragens, e claro que é necessário fazer mais barragens, mas este ano nós estamos aflitos não é por não ter barragens, nós temos barragens, elas é que não têm água”, defendeu.

Também presente neste Fórum do Ambiente esteve a diretora regional de Agricultura e Pescas do Norte, Carla Alves, que assegurou que há financiamento para a reabilitação e modernização dos sistemas de regadio já existentes, dando como exemplo a Associação de Regantes do Vale da Vilariça, em Trás-os-Montes, que tem um projeto aprovado de 1,5 milhões de euros para o melhoramento da barragem da Burga e do Salgueiro.

Carla Alves salientou que o próximo aviso para candidaturas ao Plano de Desenvolvimento Rural (PDR) destina-se precisamente à aquisição “de tudo que são equipamentos necessários para uma rega eficiente, sejam sensores, drones, estações meteorológicas, que permitem hoje fazer uma contabilidade daquilo que é preciso a planta beber”.

A diretora regional defendeu que há também que continuar a apostar em aproveitamentos hidroagrícolas, mas também nas práticas tradicionais como as culturas de sequeiro na região de Trás-os-Montes, mais adaptadas às alterações do clima.

 

Fotografia de expressodeamarante.pt