Nos últimos dias, principalmente no Norte e Centro do país, temos tido uma brutalidade de incêndios extremamente graves. Há mortos e feridos graves, pelo que é de lamentar! Estes incêndios tão dramáticos trazem-nos à memória as tragédias ocorridas em 2017.
Cada vez que surge a combinação calor, vento, baixa humidade, surgem de imediato muitas ignições. Já sabemos que esta combinação de fatores leva a incêndios com proporções difíceis de combater.
Sempre que ocorrem incêndios dramáticos surgem de imediato as teorias da conspiração sobre quem ateia os incêndios florestais. Para mim esse não é o tema principal. Outro tema que surge de imediato tem a ver com a capacidade operacional do País. No fundo, se existem meios suficientes capazes de combater eficazmente estes incêndios tão graves. E lá andamos à procura de culpados!
É verdade que quando as catástrofes acontecem, o único foco do País deve estar centrado no seu combate. Não pode haver plano B. Há que salvar as pessoas e se possível os seus bens!
No entanto, deveríamos trabalhar para que estas situações não ocorram, ou pelo menos não ocorram com estas dimensões. Aí é que está o cerne da questão! Desde 2017 para cá não fomos capazes de encontrar soluções mitigadoras deste problema. É verdade que foram apoiados alguns dos prejudicados dos incêndios, mas pouco fizemos em termos estruturais.
E as razões parecem-me bastante evidentes: há um abandono do mundo rural, muito centrado na desvalorização do uso dos solos agrícolas. Muitos proprietários, sobretudo do norte e centro do País veem as suas terras desvalorizadas. Ninguém as quer cultivar porque não são rentáveis. Essa desvalorização não só atinge a floresta, mas também os terrenos de cultivo junto das pequenas localidades. Estão quase todos ao abandono! Esta situação é muito evidente no Norte e Centro de Portugal, em algumas áreas do Alentejo e Serra Algarvia.
Não havendo políticas de incentivo à economia rural (ou pelo menos com a dimensão que se exige) os territórios vão ficando despovoados e as suas terras abandonadas.
Na realidade ser proprietário de terras, principalmente no Norte e Centro do País, é ter um rol de problemas e prejuízos. Não só as terras não são rentáveis, como dão prejuízos brutais para garantir a sua limpeza.
E é aqui que o Estado tem que intervir. Sobretudo na mudança de políticas de incentivo ao desenvolvimento do mundo rural, criando condições para que os pequenos proprietários pelo menos não percam dinheiro com as suas terras. Promover investimentos dirigidos às reais necessidades destes territórios, parece-me uma evidência.
Não ver esta parte do problema pode significar um agravamento da situação. Podemos ter os melhores meios de combate, excelentes meios de prevenção e alerta, tecnologia de ponta, mas se não mudarmos a forma de uso da terra, significa que todos anos vamos ter problemas ainda mais graves.
Aqui o Estado tem mesmo que intervir, sobretudo criando investimentos e políticas públicas que ajudem os proprietários das terras, quer sejam na área da floresta, quer seja nas propriedades agrícolas.