21 Março 2025      10:57

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Pedido de prospeção de ouro divide autarcas de Montemor-o-Novo

Uma proposta para prospeção de ouro numa área que abrange quatro concelhos do distrito de Évora, especialmente o concelho de Montemor-o-Novo, está a dividir opiniões neste município alentejano.

“Somos totalmente contra a exploração mineira na nossa região e acreditamos que já há dados suficientes de prospeção” e, por isso, “não é preciso fazer mais”, defendeu, em declarações à agência Lusa, o presidente da Câmara Municipal de Montemor-o-Novo, Olímpio Galvão. 

Por outro lado, José Geraldo, presidente da Junta de Freguesia de Santiago do Escoural, mostrou-se, também em declarações à Lusa, a favor do avanço da prospeção, argumentando que a anterior, desenvolvida por outra empresa há anos, “deu emprego a algumas pessoas e mexeu com a vila” e “não deixou marcas” na paisagem.

Os dois autarcas de Montemor-o-Novo, eleitos pelo Partido Socialista (PS), apresentam, assim, visões diferentes em relação ao pedido da sociedade E79 Portugal Unipessoal para a prospeção de minérios numa área de 447,5 quilómetros quadrados, especialmente neste concelho, mas também nos de Évora, Vendas Novas e Viana do Alentejo.

Com esta proposta de prospeção, cujo processo de consulta pública terminou a 05 deste mês, a E79 Portugal, que tem sede em Beja, pretende procurar naquela área territorial ouro e ainda depósitos minerais de cobre, chumbo, zinco e prata.

À Lusa, Olímpio Galvão salientou que, no âmbito da consulta pública, o município emitiu parecer desfavorável ao projeto, alegando a existência de “muitas zonas de proteção da natureza” e áreas da Rede Natura 2000.

“No entanto, o parecer político da Câmara Municipal é totalmente contra esta prospeção”, sublinhou, esclarecendo que, nos últimos anos, foram efetuadas pesquisas naquela zona e “já existem dados mais do que suficientes”.

Frisando que os dados “demonstram que, no máximo, existem dois gramas de ouro por cada tonelada”, o presidente da Câmara Municipal calculou que, “para se tirarem 500 toneladas de ouro, que é a intenção da empresa, é preciso revolver 250 milhões de toneladas de matéria”.

“Minas a céu aberto com uma profundidade até cerca de 120 metros vão causar um crime ambiental na nossa zona e toda a biodiversidade e riqueza ambiental da Serra do Monfurado vale muito mais do que o ouro que possa ser tirado”, defendeu.

Já o presidente da Junta de Freguesia de Santiago do Escoural salientou que se trata “apenas de uma intenção de prospeção”, notando ainda que os anteriores trabalhos deste género “não deixaram, em termos de ambiente, quaisquer marcas ou danos visíveis”.

“Até agora, o que as pessoas me dizem é que os benefícios foram maiores do que os prejuízos, porque não se dá conta, nem ninguém consegue dizer, onde estão os danos ambientais das prospeções que se fizeram”, afirmou.

José Geraldo assumiu que a anterior prospeção mineira na zona do Monfurado, que terminou em 2017, “não serviu para desenvolver a vila, mas, pelo menos, deu emprego a algumas pessoas e mexeu com a povoação”.

Agora, “como estamos a falar de prospeção, não era mau de todo saber o que temos debaixo da terra. Pensarmos se vale a pena ou não a exploração já é outro assunto, a ser discutido daqui a cinco ou seis anos”, sustentou.

Rui Fernandes, que representou a empresa nas sessões de esclarecimento levadas a cabo na região, defendeu à Lusa a importância da prospeção e da validação de dados anteriores para determinar a viabilidade de uma eventual exploração mineira. 

“Até é capaz de haver viabilidade, porque estamos com o ouro a quase 100 euros o grama”, assumiu, apesar de manter dúvidas, no caso de se confirmar o rácio de 1,68 gramas de ouro por tonelada calculado em prospeções anteriores.

O representante da E79 Portugal avançou que, se a empresa obtiver a licença de prospeção, o primeiro ano e meio vai ser dedicado à validação dos dados de pesquisas anteriores e, só depois, avançarão os trabalhos no terreno.

“O impacto é zero”, uma vez que estão previstas “sondagens mecânicas com 10 centímetros de diâmetro e pode ser feita prospeção geofísica aérea, que funciona quase como um raio-X à crosta terrestre”, explicou.

O relatório da participação pública desta proposta de prospeção, consultado pela Lusa no portal Participa, da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), indicou um total de 172 participações, tendo 169 manifestado discordância em relação ao projeto.

Algumas das preocupações manifestadas prenderam-se com o receio de impactes ambientais, a falta de provas da idoneidade e fiabilidade da empresa proponente ou as implicações para as áreas do turismo e da agricultura.

Autarquias, associações ambientalistas e de defesa do património, partidos políticos e a Universidade de Évora assumiram uma postura desfavorável em relação a este projeto.

Segundo a legislação, a Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG) dispõe de 20 dias, a partir do fim da consulta pública, para fazer chegar ao Governo o seu parecer e a restante documentação para decisão.

 

Fotografia de jornaldenegocios.pt