17 Dezembro 2022      17:10

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Passaporte

Nem todos temos um. Embora todos nós, cidadãos de países onde se pode viajar, tenhamos direito a um, possamos utilizá-lo para sair de um território que é nosso nacional, passar por outro, chegar a outro ainda, nem todos temos um. Nós os portugueses temos um cartão de cidadão que nos identifica, que nos dá um número de identificação, um número de pagamento de impostos, um número para receber uma reforma nos anos mais serôdios da nossa vida e um outro que nos dia quando e onde podemos ir ao nosso médico. Sim, com todos os nosso defeitos e falhas, em Portugal teremos assistência médica sem pensar nas gerações ultravindouras que terão de pagar as nossas contas. Acontece em alguns lugares.

Eu tenho passaporte. Tirei, há muitos anos o primeiro, por acaso em Beja, quando ainda havia o Governo Civil. A mim, agora parece-me uma eternidade. Talvez por estar a ficar velho, ou porque foi há mesmo muito tempo. O meu primeiro passaporte durou uns anos…

Cinco para ser preciso. Essa é a validade dos nossos passaportes comuns. O cartão de cidadão esse, para maiores de 25 anos, tem validade de 10 anos.

Os passaportes normalmente valem cinco, os nossos, os comuns. Outros há que são de serviço, diplomáticos, especiais e esses todos têm diferentes datas de validade.

Que o passaporte tem de ser recomendado por alguém. E aqueles em que servem de identificação.

Voltemos à origem da palavra passaporte. Qual a etimologia? Talvez venha de passar uma porta. Verdade ou não, com a sua utilização e validade, passamos portas e chegamos a lugares. Os meus diversos passaportes ao longo dos tempos já me levaram a muitos lugares. Talvez tantos quantos a vida já me levou ou ameaçou levar.

Viajar sem passaporte é sinónimo de ficar dentro de fronteiras, não passar a porta que nos separa do que está do outro lado. Foi invenção nossa. Sim, tal como foram as viagens, os transportes e tanta outra coisa que nos une e que nos poderia separar.

Basta um carimbo nos passaportes que usamos ao passar uma fronteira para nos fazer sorrir. Basta o mesmo local onde se colocam os carimbos para que nos cresça um nervoso miudinho, se bem que nada temos a recear. Quando há um passaporte e um cartão de embarque envolvidos, há sempre uma adrenalina que cresce e que nos faz transpirar, nem que sejam duas gotas.

E as estatísticas que nos dizem que o nosso passaporte é o maior, o mais forte, o mais seguro. Claro que, também no passaporte, queremos o melhor.

Apesar de tudo, o passaporte conhece todos os nossos passos. Sabe onde nascemos, onde estivemos, onde fomos, onde estamos.

Se estivesse sentado no aeroporto, olhando toda a gente, as ideias que me invadiam seriam as de perceber quantos têm diferentes passaportes, quantos sentiram já este nervoso miudinho e quantos, verdadeiramente, sabem o valor de viajar e já o fizeram. Ah quem me dera apanhar o avião agora!