14 Novembro 2021      10:57

Está aqui

Para

Para de me puxar. Eu quero ficar.

Para de gritar. Não quero chorar.

Desamparada e com as pernas a tremer, o meu corpo é projetado contra o chão frio que cumprimenta todos os meus pelos em pé, por esta altura, arrepiados. Os meus olhos fixam-se na grande e vazia parede branca e dava tudo para voltar a ver aquela estrela cadente.

- Larga-me! - Imploro de novo como se fosse o refrão de uma canção. - Por favor - Suplico e o meu suspiro sai mais alto do que eu estava à espera.

Perdoa-me se fores capaz. Abraça-me fortemente só como tu sabes fazer. Agarra-me e não me deixes ir. Preciso de ti. És âncora que me prende constantemente. Dia após dia, seguras-me, como se eu fosse feita de vidro e a coisa mais preciosa que já te passara pelas mãos.

Os meus pés aparecem descalços e não dei conta, tenho um nó na garganta e não consigo gritar. Estou presa. O chão tem cola e considero missão impossível.

- Por favor - Pedindo de novo e sem perceber, a minha voz sai trémula. Sem dar conta, as lágrimas que queimam a minha cara descem até ao queixo, numa dança triste e solitária.

Encontraste-me e deixaste-me perdida. Encontraste um rumo e eu perdi o meu. Faz sentido? Não sei.

Ajuda-me. Está mesmo muito frio aqui.

Ajuda-me. Onde estás?

Sem perceber, bato com as minhas unhas, acabando com o silêncio que se criara, compondo agora uma melodia dramática.

Vou buscar forças onde pensara que já não existissem e paro. Sento-me. Conformo-me com o meu fado. Os meus dentes param de tremer e solto um barulho para verificar o estado da minha voz. Estou viva.