15 Outubro 2016      11:56

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OUTONO

"PARALELO 39N"

As árvores começam a ficar empolgadas com a mudança. Sabem que vão ficar com cores diferentes. Castanhas, amarelas, um verde disfarçado de quase vermelho, as folhas, as roupas, a sua folhagem que daqui em diante se desnuda e veste de noiva no inverno.

Chega pois o outono. Uma mudança normalmente suave, outras abrupta, que o vento anuncia no seu soprar. O verão quente e tórrido, sensual em muitos aspetos que nos deixa a transpirar numa relação ambígua com o Sol e com o calor, parte discreto para o sul. O verão que nos muda a cor da pele deixa-nos lentamente desta vez. Em seu lugar o vento vai sussurrando segredos e anunciando a moda outono-inverno nas árvores. Os esquilos, mais atarefados que nunca, saltam de ramo em ramo nas árvores e deliciam-se comendo, roendo, mastigando e armazenando as castanhas, as bolotas, as nozes. Nestas árvores que se vestiram de verde e mudaram a sua indumentária, e enchem-se de outras cores. Chega o outono, masculino, como o padrinho que levará as noivas ao altar no casamento. Nesse casamento, anunciado em quatro atos, já estarão vestidas de branco e o inverno deixa-as além de cobertas num manto gélido e frio. Tudo culpa do outono ou, em outra perspetiva, graças ao outono que planeou antecipadamente todo o casamento e não deixou nada ao acaso.

As roupas voltam, normalmente tentando acompanhar os tons das árvores. Começam os cachecóis a fazer-se e a desfazer-se, as casas a construir-se e desconstruir-se. Uma noz a cair aqui, uma outra a fugir nas garras do esquilo fugidio que se esconde atrás da árvore. Passa despercebido na folhagem, esconde-se no meio do nada e sente-se como se fosse mais um ramo de folhas no outono.

Os primeiros pingos começam a cair e mudam as cores da indumentária. As folhas cedem e começam a cair, jazendo frias no chão. A roupa é o outono e o outono é o inverno escondido na soalheira do sol que já não é quente como foi nos meses anteriores. As mulheres e os homens mudam os rostos e preparam-se para mais uma estação. Os pintores já se sentam no Central Park com os ateliers. Na relva, sempre verde, olha os prédios escondidos no meio do arvoredo colorido e, vestidos de gabardine, pincelam os esquilos que fogem e não querem que os pintem. Insistem e acabam por suceder. Fazem com que a tela branca se transforme no outono e a alegria de quem gosta do inverno, tenha um fogo-de-artifício para, imóvel, estanque em cada uma das árvores do parque.

Os homens e as mulheres deixam-se seduzir pelos catálogos de moda em que se transforma o outono. Os fotógrafos captam os momentos para a posteridade. Como se uma despedida de solteiro se tratasse, o outono festeja antecipadamente a vinda do inverno, branco, gélido e puro. Na distância distante das longas florestas, as cores são a sedução e tudo parece tão longe e tão perdido. Mas tudo é passageiro, nem a folhagem perene resiste ao passar do tempo e das estações e as folhas caducas transformam-se em composto.

Em três meses, o outono. 

 

Imagem de europosters.co.uk