30 Outubro 2022      09:41

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Os 25 anos da “febre Guggenheim” em Bilbao

Podem os projetos culturais inovadores, arrojados e bem planeados, serem os elementos propiciadores de um crescimento económico sustentado?

Na vizinha Espanha, encontramos o singular caso do Museu Guggenheim de Bilbao, a cidade do País Basco que redefiniu a sua identidade através da criação de um dinamismo contínuo de actividades culturais, em torno de um edifício icónico.

Este projeto cultural cumpriu no passado dia 18 de Outubro 25 anos de existência. O inovador museu, da autoria do arquiteto Frank Gehry, é um caso de estudo, na forma como a sua criação contribuiu de forma determinante para a colocação da cidade no panorama internacional no que à cultura diz respeito e que promoveu uma mudança radical numa antiga e decadente cidade industrial.

O icónico edifício que alberga o museu e as excelentes exposições incluídas na programação ao longo deste quarto de século tornaram o Guggenheim Bilbao numa referência a nível internacional, com 24.710.000 visitantes contabilizados até 2022, que se traduziram numa aportação de quase 6.000 milhões de euros ao PIB espanhol e uma média de 5.420 empregos anuais.

Portanto, este é o exemplo claro de que os visitantes do museu e da cidade são uma garantia de receita, com tudo o que isso significa em termos de dinamização económica. Por outro lado, este afluxo de turistas, motivados pela descoberta de  novas experiências e emoções, permitiu também uma maior diversidade em termos das programações culturais apresentadas anualmente no icónico edifício.

Neste sentido, se do ponto de vista cultural o Guggenheim é um sucesso, o que dizer do contributo económico deste projeto? A realidade é que este investimento, em relação ao qual existia um natural cepticismo inicial, originou uma mudança radical numa cidade que se encontrava em plena decadência pós-industrial e onde não existiam significativos fluxos turísticos.

O que pensarão hoje os bilbaínos sobre a criação do museu?

Não há dúvidas, passados 25 anos, sobre os benefícios que a estratégia de reconversão para destino cultural trouxe para este contexto em particular e para toda a região. É o exemplo claro de que um equipamento cultural pode ser mais que isso e assumir-se como um elemento de mudança. Em Bilbao, um museu criou uma razão mundial para uma visita. No entanto, várias questões se podem colocar. A identidade da cidade mudou ou adaptou-se a uma nova realidade?

A chegada massiva de turistas trouxe mais prejuízos que benefícios? A discussão pode ser interessante, mas seguramente que o projeto do Guggenheim proporcionou uma mudança muito positiva na vida social e cultural de Bilbao e alterou e converteu uma área urbana que estava profundamente degradada há muitas décadas.

O impacto foi de tal ordem que o próprio espaço urbano foi reconfigurado, tendo o museu assumido um papel fundamental na nova organização da cidade, com a criação de novos espaços e uma sólida regeneração urbana. Foi gerada uma consciência política baseada num equipamento cultural, protagonista absoluto do espaço urbano e transformador de toda a paisagem envolvente.

Será que o efeito Bilbao pode ser replicado noutros contextos?

Embora as realidades sejam bastante distintas e com as devidas distâncias, talvez seja também hora de olharmos para o património cultural do Alentejo como um factor ainda mais determinante em termos de desenvolvimento económico. Temos ainda muito por fazer, no que concerne à reabilitação de monumentos, salvaguarda e proteção de outros mais vulneráveis e em risco (nomeadamente em termos de saberes tradicionais) e ainda mais investimento na programação cultural, de modo a tornar o nosso território cada vez mais apelativo. Este é um trabalho de todos, que deve ser feito em equipa, com partilha de experiências e com uma visão estratégica de futuro.

E isto não significa que tenhamos medo de perder a nossa identidade, em virtude do aumento do número de visitantes à nossa região. Pelo contrário. Pode ser o momento de estarmos ainda mais unidos na defesa dessa mesma identidade. O importante é que saibamos criar soluções e um planeamento a longo prazo, que permitam defender as nossas tradições e idiossincrasias, adaptando-as aos novos tempos e às exigências de um mundo em acelerada mudança.