24 Novembro 2021      08:52

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ONG pedem suspensão de obras na Casa do Alcaide-Mor de Estremoz

A demolição da fachada e de grande parte da Casa do Alcaide-Mor de Estremoz, para transformar a estrutura num “hotel de charme” integrado num conjunto de “villas” com piscina e áreas de lazer, está a ser contestada por quatro organizações não-governamentais (ONG) ligadas ao património, que pediram à cultura a suspensão do licenciamento da obra.

De acordo com o jornal Público, as ONG envolvidas são a Associação Portuguesa dos Amigos dos Castelos (APAC), a Associação Portuguesas das Casas Antigas (APCA) (Casas Antigas), o Movimento Cidade de Estremoz e a delegação portuguesa da International Network for Traditional Building, Architecture & Urbanism (INTBAU).

Em comunicado, as associações criticam o que tem acontecido, que, a seu ver, justifica uma intervenção por parte das entidades ligadas à Cultura.

Vítor Cóias, da Comissão Coordenadora do Fórum do Património, diz que, se nada for feito, “o empreendimento criaria um perigoso precedente para futuras intervenções em monumentos e edifícios classificados” porque, por se tratar de um projeto “assinado por um arquiteto de renome (Siza Vieira), este tipo de abordagem tenderia a fazer escola entre os jovens arquitetos deste país”.

As ONG referem ainda que a consulta que fizeram ao processo “permitiu constatar irregularidades” na fase final do licenciamento da obra, que “legitimaram” a demolição da fachada e de grande parte do edifício. 

Note-se que a instalação deste equipamento envolve uma parcela de “dimensões apreciáveis” da Cidadela, o núcleo mais antigo do Sistema Fortificado de Estremoz, “ele próprio também classificado como monumento nacional”, salienta o mesmo comunicado.

As ONG dão também conta que a demolição da fachada e do edifício está suportada num parecer “proforma” pedido pelo promotor a um docente da Universidade do Minho, que serviu de base para a Direção Regional da Cultura do Alentejo (DRC Alentejo) dar parecer favorável à demolição da fachada, “salvaguardando apenas o rés-do-chão com os arcos e abóbadas que constituem os respetivos tetos, e aproveitando algumas cantarias de guarnecimento de vãos”.

Contudo, segundo as ONG, a fachada teria de ser reconstruída, recorrendo a “técnicas tradicionais e materiais compatíveis”, mas a obra está a ser executada “em flagrante incumprimento das indicações da Universidade do Minho e dos condicionamentos definidos pela DRC Alentejo”.

A mesma fonte adianta que “ficará a fazer parte integrante da [reconstrução] fachada” uma fiada de pilares de “betão armado, interligados, ao nível dos pisos, por vigas do mesmo material como se de um vulgar edifício de apartamentos se tratasse”, quando deveria ser dada preferência à “utilização de materiais e técnicas construtivas tradicionais da região.”

Para além do parecer da Universidade do Minho, “todos os pareceres dos arqueólogos da DRC Alentejo”, elaborados em 2019 e 2020, incluem “condicionantes” à aprovação do projeto para que fossem mantidas o mais possível as componentes de alvenaria do conjunto da Casa do Alcaide-Mor e elementos decorativos interiores.

Questionada pelo Público, a diretora regional de Cultura do Alentejo, Ana Paula Amendoeira, disse que a autarquia de Estremoz garantiu que a obra está a processar-se “no cumprimento” das orientações emanadas pelo parecer da Universidade do Minho e da DRC Alentejo, e que o recurso ao betão se justifica pela necessidade de fazer “o travamento da fachada”, salientando que de outra forma “não era possível consolidar a sua reconstrução”.

Também José Sadio, presidente da Câmara de Estremoz, referiu que “enviámos ao local uma equipa de técnicos do município e a informação de que disponho é que está tudo a decorrer como estabelece o plano” de obra e a fachada “vai ficar como determina o projeto aprovado”.

Recorde-se que a Casa do Alcaide Mor de Estremoz é monumento nacional desde 1924 e foi vendido, em 2018, em hasta pública por 180 mil euros ao antigo presidente da Portucel e ex-administrador da EDP, Jorge Godinho, que é sócio-gerente da empresa Barrocas Turismo e Lazer, para o integrar num empreendimento turístico-imobiliário.

 

Fotografia de cm-estremoz.pt