11 Fevereiro 2016      16:32

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OMNIVORIA

O animal mais dominador da história da natureza contemporânea é o “Homo sapiens sapiens”. Do ponto de vista de qualquer historiador da natureza é assim. Pode ser que o ponto de vista esteja condicionado pelo facto de qualquer desses historiadores pertencerem a essa espécie animal mas, para o caso, é assim. Este domínio, avassalador, da natureza, e este ponto de vista, com o Homem como observador, conduz à convicção generalizada de que mais nada interessa. O Homem pensa, acredita.

A omnivoria é um dos quase infinitos assuntos sobre os quais o Homem pensa. Não podendo pensar que um mal maior transforma um mal menor num não-mal, o Homem tende a considerar como ponto de vista preferencial aquele que tem em si, sobre o que o rodeia proximamente. Ora, comer, é algo sobre o que o Homem pensa muito proximamente.

O problema da omnivoria nasce aí. O Homem come muito. Grandes quantidades e muito frequentemente. Qualquer Homem que viva na abundância, mais e mais terá ocasião de pensar na omnivoria. Quatro, cinco, seis vezes por dia, o Homem da abundância omnivora (do verbo omnivorar – aqui criado para o efeito desejado na presente crónica).

Omnivorando o Homem pode interrogar-se sobre a proveniência dos alimentos. Os que vivem na abundância, pensando na proveniência dos alimentos, podem assustar-se. Muitos, nunca o tendo feito, poderão espantar-se muitíssimo. O Homem é bom a espantar-se.

Donde, nos dias que correm, o Homem põe a omnivoria em causa. Há já famílias de Homens não-omnívoros. Aliás, há Homens para os quais a omnivoria é errada. Pode até ser deselegante. Homens há que se obrigam a perguntar às suas crias se gostam de comer isto ou aquilo, quando essas crias ainda mal falam e, portanto, apenas aguardam que os Pais as alimentem.

Bem vistas as coisas o Homem não tende a ser absolutamente omnívoro. Mas é tendencialmente omnívoro. Isto é: o Homem pode escolher o que come.

O que pensar, então, dos milhões de megabytes de informação veiculada com a intenção de transformar o Homem em não-omnívoro? É deliciosamente perturbador. Porquê? Porque, neste assunto da omnivoria outro entra fortemente: comer sencientes!

O assunto da sencientevoria (palavra cunhada para o efeito perseguido neste texto) é um assunto, em si mesmo, muito interessante. Na sociedade da super-abundância não se come com fome. Fome, propriamente dita, quase-ninguém (talvez mesmo ninguém) tem. Portanto, o assunto de escolher o que comer é muito relevante. Assim, comer seres vivos que manifestam dor é inaceitável por alguns Homens.

Convém deixar claro que, muito-quase-absolutamente, e até melhor visão do tema, a omnivoria se restringe a: animais, plantas e fungos (já que protistas e moneras são exclusivamente micróbios e, por enquanto, alimentar Homens a micróbios está fora de uso…). O certo é que Homens há para os quais comer animais-não-humanos é como comer animais-humanos. Ou, se certo ser vivo dispõe de sistema neurológico, sentindo, portanto, dor, comê-los é semelhante a comer “pessoas” e, como tal, inaceitável.

Restam as plantas e os fungos (ponhamos de parte os “micróbios”) já que, apesar de seres vivos serem, não tendo (todos) sistema neurológico (que alguns têem!!), e consequentemente, não sentindo dor, não são susceptíveis de pertencerem à quota dos não comestíveis-por-parecerem-“pessoas”.

É assunto delicado. Há Homens que aceitam a omnivoria, caso o animal “vorado” (palavra também daqui) tenha vivido bem, outros nem assim. E mais um Homem (este que posso citar… vive na minha casa e tem quatro anos de idade) há que, confrontado com esta problemática, decidiu e afirmou veementemente: “Faremos uma quinta onde os animais vivam até morrerem de velhos e, depois, comemo-los!” Bem visto e solucionaria a questão de matar sencientes para serem vorados: nasceria, assim, a controladíssima necrofagia praticada por Homens!

Concluindo: num planeta onde ainda há Homens que morrem de fome há também Homens para os quais a plantivoria (vulgo: vegetarianismo) e a fungivoria é a solução.

O Homem é, de facto, omnívoro, mas não obrigatoriamente omnívoro!

E, quem quiser comer animais sem matar animais, sempre pode esperar que morram… como o citado Homem advoga…

Imagem daqui.