31 Julho 2021      10:07

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O perfeccionismo

Aquilo que é perfeito é desprovido de erro. Não há nada na perfeição que seja uma falha ou que tenha uma irregularidade. A perfeição é o resultado sumo e final da obra que se constrói.

Uma construção que é perfeita é-o a nível tal que ninguém consegue detetar qualquer tipo de desvio ao planeado e o plano que lhe serviu de base é já de si perfeito.

A perfeição de um jogo de futebol acontece quando uma equipa não falha em nenhum dos passes e cuja estratégia é infalível, possibilitando uma vitória pelo maior número possível de golos.

Porém, palavra que não existe na perfeição. As palavras que são ditas ou escritas são todas elas isentas de dúvida e são elas que contam uma história perfeita.

Hoje escrevemos, não livre de falhas nem isento de reticências, um texto sobre perfeccionismo que não é perfeito. Esta é a história de uma pessoa cuja existência completa se construiu em redor da busca do perfeccionismo. Todos os seus dias começavam e terminavam tentando superar e eliminar aquele pequeno erro que sempre parecia existir no seu trabalho, na sua vida pessoal e nas suas ações, por mais inocentes que fossem.

Ela era uma arquiteta das mais competentes profissionais com quem alguma vez nos cruzaremos. A sua profissão só por si implicava a busca da perfeição, um ofício onde o seu contrário ou as suas falhas poderiam implicar o perigo para muitos. O mesmo se poderia aplicar a outras profissões onde a perfeição tem de reinar, sejam eles médicos, pilotos ou professores.

Em cada dia e em cada projeto, a busca que se enceta concentra-se no desenho perfeito. A arquiteta sofria com a sua busca incessante pela perfeição. Nisso, não era perfeita, mas seria esse o caminho que lhe possibilitaria chegar mais perto e exceder as expectativas.

O mesmo se aplica a qualquer atleta que procura encontrar, no máximo das suas capacidades, ser entre todos o ouro, o mais rápido, o mais perfeito. Todos eles são perfeccionistas. Todos eles são a nossa busca diária semelhante.

A arquiteta quer superar o lugar podia chegar, a arquiteta quer fazer o edifício perfeito. Talvez por isso haja quem fale em Grande Arquiteto. Buscará ele também a perfeição e talvez seja ele o maior perfeccionista. Dito isto, importa perceber o início e o fim dos esforços de perfeição. O mundo, em toda a sua imperfeição, demonstra-nos que a sua arquitetura se ajeita de forma tal que o encaixe é quase como um motor que funciona sem grãos na engrenagem.

A arquiteta percebia a ambição de perfeccionismo do mundo e aplicava-a nos seus gestos, nos seus planos e nos seus gestos. Quase, quase chegava a desenhar o projeto e construir o edifício perfeito na sua vida profissional e pessoal. Porém, um dia, a morte tirou-lhe a ambição de ser perfeita e terminar o trabalho iniciado. Deixou, ainda assim, todas as notas e todos os ensinamentos aos seus filhos que continuaram a sua senda da busca pela perfeição. E assim será por muitas e muitas gerações, enquanto os grãos amarelos e castanhos na engrenagem não substituírem o verde e o azul do globo oval.