11 Março 2021      17:49

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O Ovo ou a Galinha? As empresas ou os postos de trabalho?

Sem aparente conclusão segura, desde tempos imemoriais se discute o que apareceu primeiro, o ovo ou a galinha? Já no que respeita a precedência entre postos de trabalho e empresas, não se afigura haver dúvidas! Sem empresas não aparecem postos de trabalho! Como tal, quando os programas governativos colocam os objectivos de criação de emprego, não o têm feito pela ordem correcta e prioritária. O objectivo tem de ser o crescimento e criação de empresas! Os postos de trabalho surgem depois.

Os empregos não se criam por Lei! E as empresas, só as públicas! Mas a larguíssima maioria das empresas, que geram emprego e riqueza, nascem da iniciativa privada, dos empresários e empreendedores! Tantas vezes incompreendidos e mal tratados. Até pelo próprio Estado, que vive afinal à custa deles! Pelos impostos que pagam e proporcionam.

O desenvolvimento social, melhores condições de vida para todos, só são possíveis com mais e melhores empresas. O crescimento da economia, que permite melhores salários, melhores reformas, maior capacidade de consumo, melhor nível de vida, passa pelo reforço do tecido empresarial! É assim em qualquer país ou região, por isso o PRR devia dedicar mais dinheiro a apoiar as empresas.

Mas acontece que algumas regiões precisam mais que outras, para não agravar os desequilíbrios e desigualdades sociais, para evitar que algumas regiões sejam cada vez mais pobres, enquanto outras padecem dos males e saturação da excessiva abundância.

Portugal caminha a passos largos para país mais pobre da Europa. Se nada mudar, parece que dentro de 3 ou 4 anos só teremos a Bulgária com um PIB per capita inferior ao nosso. Em Portugal, neste momento, parece que o Alto Alentejo tem já um PIB dos mais baixos, se não o mais baixo, do país...! Pelo menos em relação ao Alentejo não há dúvida nenhuma, é mesmo o mais baixo da região! Tal como também compara mal noutros indicadores: é o mais despovoado, é o que tem população mais velha, é o que tem mais desemprego, é o que tem o preço m2 de construção menos valioso, é o que tem menor número de empresas!

O Alto Alentejo é pois a região que mais carece de um desenvolvimento empresarial acelerado, mesmo depois de várias décadas de quadros comunitários de apoio! Manifestamente o que foi feito, não foi suficiente! Não resultou! A base económica produtiva da região não se alterou, os indicadores económicos pioraram, a estratégia seguida não funcionou!

É preciso mudar alguma coisa: Tem de se mexer na estratégia!

Sendo a região que mais precisa de empresas, o Alto Alentejo não se pode dar ao luxo de não criar condições específicas de atractividade e fixação de empresas. E isto não vai lá com mais do mesmo! Temos de avançar com as infra-estruturas de base, eixos viários e ferroviários e disseminação da fibra óptica; criar áreas de localização empresarial que em conjunto com os restantes incentivos e apoios sejam comparativamente atractivos para os investidores. Temos de favorecer e fomentar os empreendedores, tudo com instrumentos e medidas próprias, como por exemplo os Fundos de Investimento Regional ou Operações Integradas de Desenvolvimento! Diferenciadoras, que não sejam as mesmas que oferecem as outras regiões. Temos de dar mais e melhor, conjugando os esforços especiais que temos de conseguir por parte do governo, com os esforços regionais e locais! Temos de conseguir a descentralização de serviços públicos para a região! Temos de organizar uma campanha continuada, nacional e internacional, de captação de investimento!

Temos enfim de ter dotações financeiras para concretizar toda a repensada estratégia, não sendo admissível, no nosso caso e perante a chuva de dinheiro que aí vem, que tenhamos, como tem acontecido, verbas para as empresas inferiores às outras sub-regiões do Alentejo, deixando de fora vários empreendedores.

Perante a enorme necessidade de investimento e diversificação empresarial, temos de pensar se é inteligente, apostar de forma redutora e dirigida na chamada estratégia de especialização inteligente! Nem sempre as soluções dos «pensadores e académicos europeus» são as mais adequadas ao «país real».

Temos é que em vez de andarmos a pensar sobre quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha, definirmos a estratégia e lutar por ela, porque já estamos muito atrasados! 2030 é amanhã!!!

Jorge Pais Presidente NERPOR-AE

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Natural de Portalegre, onde reside, Jorge Pais preside ao Núcleo Empresarial da Região de Portalegre (NERPOR). Casado, com um filho, licenciou-se em Direito e tem formação complementar em economia. Jorge Pais é ainda vice-presidente da CIP.