10 Junho 2020      08:44

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O novo e estúpido normal

É mais assustador que o vírus esta coisa a que insistem em chamar “novo normal”.

Não é normal; é só estúpido. Estúpido e contranatura.

Estúpido como obrigar crianças pequenas a ir à escola e ficarem dentro de um círculo, afastados, para não se tocarem, a não brincarem, a não serem aquilo que de melhor somos: humanos.

Estúpido como a invenção de um chapéu com hélices de metro e vinte, em Arcos de Valdevez, para afastar as crianças na escola. Isto, além de estúpido, é ridículo. Tão ridículo e absurdo como as orelhas de burro no tempo da outra senhora. Mas não é que a ideia ainda é vendida como uma coisa genial? Isto é é surreal, isso sim!

Estúpido como escrever um livro com o título “E viveram felizes para sempre…em palácios separados” (não colocando em causa o até poder estar bem escrito e ser uma história engraçada) que prepara as crianças para uma nova realidade que não se quer; que não é natural, nem se deve promover.

Aliás, o mundo parece que sempre esteve preparado para este novo normal, ou então disfarça bem e só querem os seus dois minutos de fama da TV. As reportagens sucedem-se e brigam-se para mostrar como o ti Zé agora rega as couves, ou como a Dª Maria vai ao pão, como a Dª Joaquina recebe o correio ou com o dono do café de uma aldeia perdida nos confins, e pela qual nunca ninguém se interessou, aproveitou o tempo para trocar as lâmpadas e fazer um candeeiro em cortiça.

Tudo normal, portanto, só que dentro da anormalidade que nos querem impingir.

Aplicações para o telemóvel, drones, pulseiras, tudo medidas que fazem lembrar a faixa que judeus foram obrigados a usar para serem identificados, como se isto trouxesse benefício social relevante.

Não é normal as aulas on-line, é um recurso, nunca um sistema. Não é normal o afastamento humano, não é normal a parvoíce dos semáforos nas praias ou as bombas de gasolina versão bar, não é normal as manifestações e celebrações desregradas, não é normal a dualidade de critérios entre factos iguais.

Também normal não é a fratura social entre as oposições, a intolerância crescente e latente a nível social, seja pela raça, seja pelo clubismo, seja pelas divergências partidárias.

Se depois de começar o confinamento foi assustador sair de casa para ir a primeira vez ao hipermercado (em que parecia estar num filme daqueles dramáticos que roça o final da humanidade), este “recomeço” é ainda mais assustador, arrancado a ferros de um livro de Orwell, que aliás disse “ Se todos aceitam a mentira, a mentira entra na história e torna-se verdade.”

Passaram uns meses e as máscaras caíram todas; caiu a boa educação, o respeito, a tolerância. Tudo características essenciais para uma vida em sociedade. Assim sendo, mais tarde, ou mais cedo, cairá a sociedade também e acabaremos todos à trolitada à moda dos nossos antepassados das cavernas.

O que vivemos não é normal, não tratem como se fosse.

Não o aceitem assim, não se resignem.

O que devia ter mudado, o sistema económico e a lógica financeira do “antigo normal” não mudou; ficou e aguçou as garras. O que era bom, os sentimentos, os afectos, estão a perder-se, a cair na “normalidade” do “distanciamento higiénico”, mas com uma máscara cheia de estilo.

Não vou fazer apologias de teorias da conspiração, nem dizer que já está tudo bem. Não está. É necessário ter os cuidados necessários para acabar com a pandemia, sem dúvida, mas não cedam demasiado na Liberdade.

Se aceitarmos a “nova realidade” como tal, podemos nunca mais voltar à anterior, e hoje, Dia de Portugal, que desde 1143 tanto lutamos pela independência e pela Liberdade, é um bom dia para pensar nisto.

Exija-se ser humano, exija sociedade e seja “portuguesamente” teimoso nestas convicções.