12 Abril 2020      12:37

Está aqui

O meu superpoder

Tenho um superpoder. Num tempo indeterminado, que penso que sejam segundos, consigo voltar anos atrás e sentir tudo. A minha pele regressa ao passado e com ela, a minha mente. O meu coração. Os meus olhos. O ar que, agora, não consigo respirar.

Olho ao meu redor e estou num labirinto. Não sei o que aconteceu. O que me aconteceu. É tão familiar para mim que já não me assusta. Será?

No meio dele, perco-me nos movimentos que o meu corpo faz. Ou tenta fazer. A minha voz interior está rouca de tanto berrar o teu nome. O meu coração está em chamas e não há nada que o consiga apagar. Nunca houve. Nunca haverá. E tenho de aprender a viver com isso.

Estou desamparada. Esperança?

Quero agarrar o meu coração, tê-lo a salvo nas minhas mãos e afirmar que está tudo bem. Mas estará?

As melhores músicas são aquelas que transmitem dor; sinto a música a correr entre os meus pequenos dedos. Estarei a alucinar?

Respiro fundo.

O meu nariz agradece-me pelo ar que lhe dou de novo. Devo-lhe tanto. Tento a minha sorte de novo com o coração. Digo-lhe que é apenas outra fase má e que passará, tal como as outras, mas ele recusa falar comigo. Já não acredita nas minhas palavras soltas.

Este faz-me querer isolar-me outra vez. Viver “em paz” comigo e com a minha solidão, de novo. Fazer as pazes com a angústia, que deve sentir a minha falta.

Sou frágil como um pequeno cristal. Deixaram-me cair, outra vez, e voltei ao meu ciclo. Acaba por ser, sim, um ciclo vicioso.

Não me conheço novamente. A minha garganta chora. Os pensamentos sufocam a minha mente. A minha boca tem um formato pesado.

Por mais caminhos que escolha aqui, chego sempre ao mesmo destino: um espelho. Cada pequeno detalhe meu está lá desenhado.

A única pessoa a quem estou a enganar sou eu.

De repente, o céu ficou triste, com um azul escuro nunca antes visto por mim. Estás a tentar dizer-me algo, mas, pela primeira vez, não te entendo.

Sem forças, não me conseguindo mexer, olho para cima, com os meus olhos pintados de lágrimas. Berro, sem voz, ajuda.

 

 

Rita Medinas, natural de Reguengos de Monsaraz, com dezoito anos e estudante do Curso de Português na Universidade de Coimbra.