16 Novembro 2019      23:03

Está aqui

O meu segredo

Foi um segredo por muito tempo. O meu melhor segredo. Fugiste da realidade e, por isso, escrevo-te agora, transformando os meus sentimentos em palavras.

Podia estar a escrever-te uma carta cheia de porquês. Podia estar a suplicar, a gritar em plenos pulmões, as respostas que tão exaustivamente procuro. Mas sinto-me consumida pelo cansaço. Penso que atingi o meu limite. Sinto-me um copo de vidro frágil a fazer uma trajetória lenta até ao chão.

Quero antes agradecer-te. Agradecer-te por tudo aquilo que fizeste por mim e não sabes. Talvez um dia o venhas a saber, mas será tarde de mais.

Agradeço-te porque, graças a ti, eu conheci a pessoa mais forte que conheço: eu. Descobri-me e não tenho como te agradecer por isso.

A forma como acordas o meu interior com apenas um olhar destrói-me. Destróis cada peça de mim.

Escreveste-me sem lápis. Moldaste-me sem seres escultor. Eu era inacabada, até te conhecer.

Quando acordo de manhã, fico sem falar durante minutos. Nos meus sonhos, estás tu. Tu e eu. Aquilo que eu sempre quis que fôssemos. E penso “porquê?”. Nunca tenho resposta, é sempre em vão, tu não estás lá para responder. Desta vez eu estou a afundar e tu não estás presente. Mudaste como as estações.

Sou egoísta ao ponto de querer que chorasses por mim, que sentisses o que senti, o que sinto. Que o teu coração berrasse como o meu. Que o teu corpo suasse cada vez que ouvisse o meu nome. Que a tua alma sangrasse. Mas tu não és como eu. E sinto muito por isso.

 

Por Rita Medinas, natural de Reguengos de Monsaraz, com dezoito anos e estudante do Curso de Português na Universidade de Coimbra.