Em 1919 foi assinado o tratado de Versalhes pelos aliados vencedores da 1ª Guerra Mundial, e pela vencida Alemanha. Este tratado que impunha o pagamento de avultadas despesas à Alemanha como responsável máxima pela guerra na Europa é visto por muitos como o grande responsável pela escalada de Hitler até ao poder e consequentemente da 2ª Guerra Mundial. Esta introdução serve como metáfora ao que considero ter sido uma humilhação praticada pelos EUA e Nato à Rússia desde a queda da União Soviética. Adianto-me já dizendo que repugno veementemente a escalada bélica de Putin na Ucrânia, um ditador sanguinário que ao longo deste anos encarcerou e matou jornalistas como exila ou envenena os seus opositores políticos, mas que a montante do ataque não considero a Rússia como responsável único. Nenhum estratega viu como possível um ataque ao território pleno da Ucrânia. Pessoalmente concordo que diplomaticamente a Rússia se opusesse à adesão da Ucrânia à Nato, bem como a realização de um referendo para a independência das 2 repúblicas separatistas de Donetsk e Lugansk.
Aquando da guerra fria tínhamos duas organizações militares antagónicas, do lado Ocidental a Nato, encabeçada pelos EUA e do lado Oriental o Pacto de Varsóvia com liderança na União Soviética. Os propósitos de ambas era contrabalançar o peso que o adversário tinha e com isto persuadir qualquer membro a não recorrer à guerra. Com isto evitou-se uma nova guerra direta entre as 2 maiores potências ou outros confrontos nos principais palcos de tensão, a Europa. Houve porém períodos periclitantes que poderiam ter resvalado para a guerra como a questão dos mísseis de Cuba, e mesmo confrontos mas em geografias afastadas, financiadas por estas potências, como o Vietname. Quando em 1990 as 2 Alemanhas então administradas pelas 4 potências vencedoras da 2ª grande guerra (EUA; França; Grã Bretanha e União Soviética) se reunificam, como prelúdio para o que seria o fim da própria União Soviética e do Pacto de Varsóvia foi estabelecido cavalheiristicamente que a Nato nunca se expandiria para Leste da Alemanha como retrospetiva à humilhação que fora feita à própria Alemanha que levou ao que já foi descrito.
Tal não aconteceu, a Nato encheu a Europa Central de bases, Polónia, Hungria, República Checa até mesmo chegar aos Bálticos, Letónia, Lituânia e Estónia. Um gigante adormecido, é sempre um gigante. Não obstante a decisão de adesão ou não de um país a um qualquer tratado estar exclusivamente destinada a esse país, tivemos o exemplo da Finlândia que por viver paredes meias com a Rússia preferiu não aderir à Nato pelo simples bom senso. Se o único propósito da Nato era opor-se à União Soviética, seria expectável que quanto mais para Leste avançassem mais letal poderia ser a reação de um tirano ávido por um regresso ao imperialismo Russo.
Apesar de não concordar igualmente com as passadas invasões da Nato à Jugoslávia ou dos EUA ao Iraque, é perigoso usar este advérbio “mas” para uma qualquer mínima compreensão ao sucedido na Ucrânia, pois assim nunca se condena um lado por outro ter aberto um precedente. Infelizmente, é mesmo por do outro “lado”, o da Nato, estarem os EUA que muita esquerda portuguesa tem uma reação Pavloviana ao sucedido, resvalando para uma guerra fria e por conseguinte não conseguir condenar a Rússia. Dos crimes imperialistas que os EUA perpetuaram, financiamento a ditadores na América Latina, invasões de “paz” no Vietname ou a manutenção de um campo de concentração em solo Cubano, Guantánamo, merece igualmente a nossa repulsa, mas num caso em que outro imperialista invade um país soberano não pode haver dicotomias de guerra fria.
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Alexandre Carvalho é natural do Porto. Licenciado em Comunicação Empresarial pelo ISCAP, ligado ao ramo do design de interiores e da vertente digital. Interessado pelo panorama da política nacional conta vir viver para o Alentejo, porque se enamorou por uma alentejana.
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