15 Maio 2021      08:43

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O Leão que só gostava da cor verde

Era uma vez um leão, grande e forte, que rugia mais alto que ninguém é que dominava a selva onde vivia. Este leão, não era o único. Vivia harmoniosamente entre tigres, águias, hienas e dragões. A harmonia entre eles era tal que todos os fins de semana partilhavam jogos de futebol. Ninguém se chateava. Jogavam intensamente mas dentro e fora de campo era um fair-play impressionante.

Nesse ano, quem organizava os jogos e quem ditava as regras era o leão. Sendo o rei da selva, tinha sido designado para comandar as hostes e definir tarefas, organizar os jogos, tomar conta dos vários sectores da selva. Apesar de ser um ano atípico, as coisas lá iam decorrendo, com o leão a organizar. Claro que, durante o ano, as coisas passaram por momentos altos e baixos. As águias chatearam-se algumas vezes, os dragões em ocasiões várias lançaram chamas ardentes, os tigres iam jogando o seu jogo, sem grandes alarmismos. As hienas, essas, riam-se de tudo! Enquanto os outros discutiam as coisas mínimas, as hienas riam-se. Quando começavam a discutir coisas que não eram tão mínimas, continuavam a rir-se. Mas a harmonia continuava a existir.

Voltemos ao Rei Leão. Esse ano de que falamos seria o seu melhor ano. Há muito que não tinha tido o privilégio de organizar os jogos naquele lugar. Este seria o seu ano.

Havia, porém, uma particularidade neste leão e nesta selva. Como todos, cada animal tinha uma cor preferida. No caso desta selva, o tigre vestia amarelo, o dragão gostava imenso de azul, a águia vivia de peito vermelho, a hiena e o cinzento eram uma só, enquanto que o leão só usava verde! Nunca tinha visto aquele animal usar outra cor que não fosse verde. Camisa verde, sapatos verdes, a casa estava pintada de verde e o seu carro era verde. Poderemos considerar que havia alguma extravagância na sua forma de estar, que não seria muito normal a recorrência ao verde, podemos considerar muitas variantes. A única coisa que mudaria era o sentido hipotético e linear de uma situação. O que é verdade é que o Leão só gostava de verde. Confesso que partilho essa sua preferência pela cor. O verde é a cor da esperança, das folhas que nascem. Pode levar muito tempo até renascerem, mas renascem.

São qual fénix renascida das cinzas. Este era o livro e o mito que o Leão lia todos os anos. Ajudava-o a acreditar, a cada dia, na ordem e harmonia na selva.

Todos lhe perguntavam porque só usava verde, porque só comia verde, porque acordava e adormecia em tons de verde? A resposta era sempre a mesma. Há coisas que não se escolhem, que apenas se sentem e vivem. O verde era uma delas na vida de um leão. A harmonia, a resiliência e a perseverança eram outras dessas qualidades e constantes.

O leão nunca deixou de se vestir de verde, tal como os outros animais nunca deixaram de preferir e usar outras cores. Ninguém abdicou da sua crença. Ninguém perdeu a identidade, mas continuaram a jogar em harmonia e uns ganhavam, outros perdiam, e a selva continuava a ser ponto de encontro.

Este ano foi assim, o ano do leão no calendário chinês, português e europeu. Quem sabe de quem será e de que cor se cobrirá o manto da planície da selva? Ainda ninguém, porque estamos só a falar de lugares maravilhosos, de animais e de cores que se conjugam em harmonia.