19 Março 2022      10:53

Está aqui

O elefante que se escondia numa caixa de fósforos

Nas planícies do Alentejo, douradas e extensas que por vezes nos poderão parecer semelhantes à deslumbrante savana africana. Não poucas vezes nos confundimos com as árvores solitárias e aquilo que poderia ser um prolongado silêncio no continente vizinho.

Deslumbrante, a planície alentejana reúne muitos dos traços da savana. Salvos raras existentes e tantas outras, também elas raras exceções, não existem no Alentejo os animais da savana. Será possível encontrá-los, porém em locais restritos e muito circunscritos.

Imagine-se, nas planícies do distrito de Beja ou de Évora, circularem girafas, leões, leopardos, gazelas e até elefantes. Aqueles que dominam essas planícies são os porcos alentejanos, que não penso queiram dividir as bolotas com animais estranhos ao seu habitat.

No entanto, imagine-se que um dia, num futuro não muito distante, um desses animais aparecia no Alentejo, por sua auto-recriação? Pouco provável, porém num insuspeito lugar, aconteceria.

Tal dia, um elefante decidiu afastar-se da manada, o que já de si é pouco verosímil e caminhou dias e dias, em sentido norte, até apanhar boleia com as areias do Saara e acabar no Alentejo. Para si, uma terra estranha, para a terra, um visitante ainda mais estranho. Por meios de poderes quase mágicos, o elefante raramente fora avistado. Os habitantes de um monte próximo ter-lo-iam visto uma vez ou outra, somente à noite.

Nunca o animal tinha sido avistado durante o dia. As pessoas daquele monte passaram a palavra ao outro monte, e o outro monte a outro e assim sucessivamente até que a palavra se espalhou de um ser estranho que só aparecia à noite e que, durante o dia, se escondia numa caixa de fósforos que ninguém conseguia encontrar.

Todos, desde velhos a crianças, esperavam ser o primeiro a encontrar a caixa de fósforos. Todos esperavam desvendar o segredo da lenda que se criara sobre um elefante que vivia de noite e, ao raiar do sol se escondia numa caixa de fósforos, até que as estrelas e a lua subissem ao céu. Até hoje, ninguém a encontrou, tal como até hoje ninguém deixou de a procurar.