5 Fevereiro 2023      15:55

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O declínio do Interior (Alentejano)

Por Alexandre Carvalho

Portugal está numa tendência acelerada de perda de população. “Se até um município como Vila Nova de Famalicão que está longe de ser rural perde população, o que será do verdadeiro Portugal rural” (Tavares A). E de facto é verdade, se muitas cidades do litoral perdem população, nos municípios do Interior está-se a tornar preocupante. O Alentejo como é sabido, é uma das regiões mais envelhecidas do país, só em 20 anos perdeu cerca de 50000 habitantes, em 2000 a região tinha cerca de 511000 habitantes e em 2020 tinha 460000 (INE). Pelas inúmeras desvantagens que este cenário traz podemos destacar: insustentabilidade do ponto de vista económico, redução da população ativa, redução de massa humana crítica com capacidade empreendedora, redução do investimento privado e público, perda acentuada de fornecimento de serviços públicos.

Alguns autores consideram a transformação económica como a principal causa do declínio urbano (Friedrichs, 1993). Falando no particular da região dos mármores, faixa entre Vila Viçosa, Borba e Estremoz, houve uma extrema dependência do setor dos mármores. Durante muitos anos esta região viveu um boom na internacionalização desta pedra preciosa, e vendia especialmente para o médio oriente. No entanto com o reduzir quer da oferta quer da procura muita da indústria foi fechando e toda a envolvente também.

Numa região de pequenas dimensões é normal ficar-se refém de uma atividade económica, no entanto deve haver um acompanhamento do poder central para ou mitigar esta influência ou dar apoio para o estímulo do setor, e com o constante fechar da linha férrea a mensagem era contraditória. Hoje em dia, apesar de ainda ser um setor que paga acima da média, a capacidade de atração não é elevada, principalmente pelos riscos que continua a ter mas também pelo aumento das qualificações dos jovens. Muito do processo de extração desordenado está hoje em dia a ter consequências.

O caso mais trágico foi o desabamento de uma pedreira que ligava Vila Viçosa a Borba que vitimou 5 pessoas, mas ao longo da região muitas estradas estão suprimidas pelo risco de queda. Isto deve-se a negligências tanto dos proprietários das pedreiras como pela falta de recursos humanos especializados nas câmaras com capacidade para fazerem vistorias. As consequências ambientais graças às clareiras das pedreiras são inúmeras. Esta região ficou mal posicionada em comparação com cidades vizinhas, para investimentos económicos ou revitalizações das pedreiras por causa do legado de solo contaminado e infraestruturas obsoletas (Turok, 2004).

A falta de serviços também é um fator de predomínio na hora da escolha da fixação.

Qualquer jovem que tenha a possibilidade de ir estudar para Lisboa, o regresso ao Alentejo faz-se de alguns “retrocessos”. A proximidade a espaços comerciais, equipamentos desportivos e culturais, zonas de movida, são elementos muito importantes para os jovens. Ao mesmo tempo quem vai ficando são idosos, então qualquer jovem está sempre mais suscetível de sair pois tem um amigo ou familiar a residir numa grande cidade, o que lhe facilita a tomada de decisão de arriscar na aventura pois tem um primeiro porto seguro. A falta de emprego no entanto é um dos principais fatores para a não fixação dos jovens.

Cada vez mais existe uma lacuna entre os grandes proprietários de terras, donos de empresas ou de serviços liberais, empregos ligados à Administração Pública e empregos precários. A classe média jovem que gosta de saltar de emprego em emprego à procura de melhores oportunidades não vê o Alentejo como futuro promissor, pois as oportunidades não abundam, e muitos menos as bem pagas. Por isso cada vez mais há um fosso entre os bem qualificados e os mal. A proximidade ao trabalho também é importante. Em vilas pequenas, é muito frequente o local de trabalho ser numa outra vila ou cidade, o que implica deslocações diárias e mais gastos. (Barreira, 2015).

(Continua.)

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Alexandre Carvalho tem 24 anos e é natural do Porto. Licenciado em Comunicação Empresarial pelo ISCAP, ligado ao ramo do design de interiores e da vertente digital. Interessado pelo panorama da política nacional conta vir viver para o Alentejo, porque se enamorou por uma alentejana | alexandremiguel.c95@outlook.com