21 Dezembro 2016      12:16

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O CUSTO OCULTO DO NATAL

Na época natalícia o consumo imediato, impulsivo e irrefletido aumenta mais do que em qualquer outro período do ano. Durante este período, é gerada uma grande quantidade de resíduos orgânicos e de resíduos recicláveis como embalagens de cartão, papel e vidro. Todo esse aumento de consumo gera um enorme impacte ambiental que é responsável pela maior pegada de carbono individual diária registada ao longo do ano.

Ainda que o Natal, por diversas razões, seja um dia único e especial, a sociedade de consumo já se apropriou dessa quadra, convertendo-a ao credo do deus do consumo desenfreado. E, assim, somos incentivados e empurrados; persuadidos e manipulados; convencidos e impelidos a consumir, consumir, consumir!

Durante esta época festiva a maioria das pessoas consome mais do que o habitual e a cada Natal amontoam-se uma imensidão de coisas que compramos, que oferecemos, que usamos ou desperdiçamos, que deitamos fora. Contudo, cada coisa adquirida tem uma pegada ambiental associada, desde a sua extração, transformação, produção e transporte até ao destino final. No fundo, trata-se de uma ampla rede de impactes ambientais impercetíveis no ato da aquisição, com implicações que os nossos olhos não veem e o coração não sente.

Se pudéssemos ver com facilidade o custo oculto das coisas que compramos e usamos diariamente, com certeza que não ignoraríamos o verdadeiro impacte ambiental que promovemos, quer em termos da sustentabilidade do planeta, quer em termos da saúde do consumidor, ou inclusive ao nível das condições laborais das pessoas, cujo o trabalho nos proporciona conforto e suprime as nossas necessidades.

Neste mundo de costumes ocidentais a abundância vem com uma etiqueta de preço oculta. O custo ambiental das mercadorias permanece invisível, ocultando todo o ciclo de vida do produto e todas as suas consequências em cada estágio.

No entanto, se fossem apresentadas essas informações ao consumidor de forma clara e de maneira a exigir pouco esforço, possivelmente, tudo seria diferente. A informação, em si, tem valor e as informações fornecidas na rotulagem do produto atraem a consciência dos consumidores e mobiliza-os em torno da defesa do meio ambiente. É, justamente, todo esse conhecimento que confere liberdade ao consumidor, que aumenta o poder de escolha e que concede a capacidade para influenciar o mercado de bens e serviços.

Numa sociedade ambientalmente responsável, o consumidor deveria ser capaz de acompanhar todo o impacte ambiental gerado pela fabricação de um produto, desde a sua concepção até à sua eliminação e não apenas conhecer o traço de carbono ou outros custos ambientais genéricos. O consumidor deveria ser informado de modo a reconhecer os riscos biológicos associados, bem como as consequências geradas para aqueles que ativamente participaram durante o processo de produção. E, assim, poderiam, em consciência, decidirem o que comprar.

Enquanto tudo isto não for possível de ser concretizado, há algo que está ao nosso alcance e que podemos fazer, para minimizar os impactes ambientais, durante a época natalícia, a saber: utilizar materiais e utensílios que possam ser reutilizados nos anos seguintes; dar preferência a produtos regionais ou nacionais de modo a diminuir a quantidade de combustível necessário para o transporte. Prevenir o desperdício alimentar ajustando a ementa às necessidades. E quando abrir os presentes tenha o cuidado de separar os recicláveis, embalagens e papéis de embrulho, ou guardar os materiais que possam ser reaproveitados para outras ocasiões.

Neste Natal lembre-se que somos todos vítimas indefesas do que parece ser uma conspiração que visa apenas o lucro desmedido e desenfreado do “deus consumo”.

Boas Festas.

Imagem de capa de thevitalvoice.com e UNICEF