14 Agosto 2021      12:06

Está aqui

O barulho

É ensurdecedor. Demasiado grande o ruído que se ouve daqui e de além. Não se consegue ouvir nada mais além de um burburinho que é algo que cresce e se torna insuportável.

O barulho faz parte da nossa vida. Na morte certamente já não o ouviremos mas ele continua ao nosso redor. Até na sepultura o barulho incomoda os cemitérios. Não que alguém se queixe, mas há um ruído que dura e perdura em cada uma das entradas e saídas de uma casa sem vida.

Acordei cedo há dois dias atrás com um ruído insuportável que não sei nem sabia como controlar. A sensação de incapacidade e impotência perante um barulho tão agudo torna-se insurdecedora, seguindo a lógica daquilo que dizíamos.

Hoje, decidimos falar de alguém que, pelas suas características físicas não sabe o que é ou significa o barulho. A sua palavra fica vazia de sentido porque essa pessoa nunca o experienciou. A palavra não é nada! Uma palavra só o é quando sabemos ligar o significante ao significado e, neste caso que hoje contamos, no barulho, falamos de alguém que não o conhece porque nunca o ouviu. Será mais feliz que todos os que ouvem e que admiram e todos os que ouvem e se queixam?

Será o barulho uma barreira maior entre o silêncio e o insuportável? Eu certamente não gosto de querer ficar comigo e tudo ao meu redor gritar para suprimir o vazio que, dizem, é silêncio. Não me parece que o silêncio seja o vazio. Considero-o, ao invés, a oportunidade de me reunir com os meus pensamentos, melhor do que no restante tempo.

Enganai-vos se achais que não gosto do barulho. É nele que me encontro melhor. É nele que escrevo melhor. Enquanto ao meu redor tudo se desmorona, as minhas ideias fluem. Os gritos não me interessam, nem os dramas, muito menos o barulho de fundo e as dores de cabeça. O barulho transforma-se em energia criativa e construímos algo juntos!

Falamos de alguém que não ouve o barulho. Falamos de alguém que, apesar de não ouvir, sente o barulho. Sente a sua ondulação, a forma como afeta todos em seu redor… e mesmo sem os decibéis, esta pessoa treme junto com as sensações do barulho.

O ruído é muito maior do que o barulho. Para mim, o barulho e o ruído são as vibrações que nos rodeiam, quer as oiçamos quer não.

E agora, quer aquela pessoa que não ouve mas sabe escrever, quer eu, partilhamos as notas de uma crónica insonora, mas cheia de barulho dentro de si… decerto ouvis o ruído que não chega a barulho mas assim se chama.