3 Maio 2019      12:58

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O assalto às túberas alentejanas

São tão raras quanto cobiçadas, e tão valiosas quanto saborosas. Falamos das túberas, uma iguaria conhecida pela cultura ancestral alentejana e que começa a ser alvo de grande procura, uma oportunidade para os "larápios do campo", como os trata um proprietário de Arronches, que diz já ter sido "roubado" mais do que uma vez, pela ação furtiva de pequenos grupos de pessoas, que lhe invadem a propriedade sem autorização e que desaparecem quase sem deixar rasto, apontando para uma série de buracos no solo, de onde foram extraídas as famosas trufas alentejanas.

Menos sorte tiveram por estes dias um grupo de quatro homens detidos pela GNR, que transportavam mais de 17 quilos de túberas quando foram surpreendidos pelo proprietário de uma herdade no Crato, que entre avisos com tiros de caçadeira disparados para o ar e a chamada das autoridades, conseguiu impedir que lhas roubassem.

Mas houve um tempo em que os campos eram abertos, ou de uso mais comum e a túbera era um pouco de quem a sabia encontrar, com um ritual passado de geração em geração, que ensinava a arte difícil de as saber identificar, até porque se escondem por baixo da terra.
 
Diz esse conhecimento antigo que a túbera, para além de preferir os terrenos moles, é pródiga em campos lavrados há mais de dois anos, onde floresce o mato novo. O mesmo conhecimento antigo que criou um léxico próprio como o "escarchão" ou fendas no solo que podem ser um sinal da presença da túbera, ou a "leira", um conjunto generoso de túberas.
 
Moengas à parte, a túbera, que por sinal tem um festival dedicado em Mértola, é uma iguaria extremamente apreciada nas suas mais variadas formas de ser cozinhada, especialmente com feijão, com arroz ou com ovos e, por ser sazonal, é geralmente colhida após as chuvas de março e abril pelos campos, sobretudos "mais moles", onde cresce espontaneamente, com forma arredondada, sabor e aroma intenso, e com preços exorbitantes em alguns restaurantes da região. E dura apenas entre 3 semanas a um mês, desaparecendo até à primavera seguinte.
 
Imagem de capa de cabaredogoucha.pt
 
 
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