9 Maio 2025      10:41

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Nuno Gama inspira-se no Alentejo para nova coleção de moda

Nuno Gama, designer

O criador de moda Nuno Gama apresentou recentemente a sua nova coleção masculina, intitulada “É Tão Grande o Alentejo”, inspirada na cultura e na tradição desta região do país.

Para a preparar e construir, Nuno Gama foi à descoberta da cultura do Alentejo, das tradições, dos costumes, da gastronomia e das pessoas que vivem nesta região do país.

“Perceber a vida das pessoas, os desgostos, as vivências, as esperanças e os sonhos é especial. É quase como nos reencontrarmos como seres humanos”, contou, em declarações ao portal Sapo Lifestyle.

Embora esta coleção tenha envolvida muito meses de trabalho e de pesquisa, o designer de Azeitão sublinha que tudo foi desenvolvido com grande naturalidade, graças à sua proximidade e ao seu fascínio pelo Alentejo.

“Eu cresci no meio destas tradições e de ver coisas que eram passadas da avó para a filha e assim em diante. De geração em geração ia-se ensinando ‘Isso não se faz assim’, ‘Isto está mal feito. Vamos desmanchar’, ‘Vamos fazer um tapete bonito para o chão’. São histórias de amor intermináveis e são coisas que têm a ver com a minha essência, com tudo aquilo que eu experienciei e absorvi enquanto criança dessa gente toda”, revelou à mesma fonte, a propósito desta coleção que foi recentemente apresentada na cidade de Lisboa.

“A minha intenção não é reproduzir as coisas como elas são. A minha intenção é perceber que magia é que opera em mim e o que é que eu faço com isso”, esclareceu.

Nesta temporada primavera/verão, o designer partilha, assim, a sua visão do Alentejo, que deu origem diversas a peças às quais não faltam cor e detalhes, com tonalidades inspiradas nos trajes tradicionais e nas paisagens da região, como acontece, por exemplo, com o castanho, o verde ou o branco.

Ainda assim, o grande destaque vai para a variedade de bordados e estampados apresentados nesta linha, que tanto podem ser usados sozinhos, de forma integral, como sobrepostos. Nesta coleção, os tecidos de chita, o xadrez, as riscas e as flores surgem em camisas, calções, jeans ou em detalhes nas dobras das calças. Já o patchwork, apresentado regularmente em algumas das peças masculinas da marca, é agora utilizado em blusões ou blazers.

“Esta é uma forma de fazer coisas diferentes e exclusivas”, defendeu, em conversa com a mesma fonte. ”Quando eu levo as peças para a máquina, elas são todas iguais. Ao fazer o recortado e aplicado à mão, as coisas adquirem um carácter e uma riqueza completamente diferentes”, acrescentou.

Também a azeitona, um dos símbolos da região, pode ser encontrada em diversas peças da coleção, surgindo também para transmitir uma mensagem e incitar à reflexão.  

“As azeitonas têm uma dupla mensagem. A oliveira é um símbolo de paz e uma coisa que me entristece imenso é termos o mundo virado às avessas. Há gente a exterminar outra, cheia de ódio e de forma muito agressiva, que é algo que eu não posso aceitar”, vincou.

O típico mobiliário pintado à mão também não ficou esquecido, surgindo reinterpretado na roupa e no calçado, graças a uma ajuda especial.

“A D. Etelvina Santos, que pintou estas peças, é a senhora que, todos os dias, pinta mobílias. São exatamente os mesmos motivos que ela faz no mobiliário”, explicou o designer acerca desta arte que, apesar de ter um futuro incerto, foi ‘resgatada’ para esta coleção de moda.

Devido às elevadas temperaturas que se registam na primavera e, especialmente, no verão, foram privilegiados o linho, o algodão e o linho típico do Alentejo, ideais pela leveza, pela frescura e pelo conforto que oferecem. 

Para Nuno Gama, que procura sempre criar peças confortáveis, simples e elegantes, é ao sair da zona de conforto que consegue chegar mais longe, conquistando novos clientes, aumentando as vendas ou trabalhando na evolução do produto e na sua qualidade.

Entre as novas propostas do criador, existem também acessórios, como bandanas vermelhas e brancas, chapéus com bainha desfiada ou lenços bordados. 

O cante alentejano também fez parte do desfile em Lisboa, que chegou ao fim com um grupo a entoar o tema de Dulce Pontes que serviu de mote para esta coleção. 

“Eles foram a cereja no topo do bolo. Sem o cantar do ‘É Tão Grande o Alentejo’ não tem o mesmo impacto. Durante seis meses, ouvi esta canção seis milhões de vezes, no mínimo, e hoje estava completamente arrepiado e emocionado”, confidenciou.

 

Fotografia de visão.pt