14 Dezembro 2022      19:22

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A nobreza da política, muitas vezes deitada à lama...

De uma forma um tanto ou quanto inesperada, iniciei funções políticas em outubro do ano passado. Não sendo um “político profissional”, estes meses têm sido de aprendizagem e de adaptação a uma nova realidade. No entanto, a vontade de participar activamente em termos de serviço público sempre esteve presente.

Poder fazer algo pelos outros foi algo que norteou o meu percurso desde cedo e que de certa forma, foi alimentando a possibilidade efetiva, relativamente a uma participação cívica mais activa. Houve sempre uma sedução real por este mundo, com o objetivo de poder contribuir para um futuro melhor dos que me rodeiam. Apesar da exigência dos cargos públicos, considero até que devia ser uma experiência pela qual todos deveríamos passar. 

Nesse sentido, a nobreza da política, baseada numa atitude desinteressada e altruísta, num espírito de missão, foi algo que definitivamente influenciou a decisão que tomei, ao integrar a equipa que neste momento lidera os destinos do concelho de Vila Viçosa. Consciente de efemeridade do cargo, entrego-me todos os dias, de corpo e alma, juntamente com os meus colegas de executivo, com o objetivo de resolver os problemas que surgem a diário, escutando os anseios e reivindicações das populações, numa atitude humilde e de compromisso  para com os munícipes. 

Não quer isto dizer que esteja isento de falhas e de erros, nem que seja melhor que ninguém. Quase nunca temos soluções mágicas, em tempo útil, que agradem a gregos e troianos e os recursos são infelizmente escassos, perante a quantidade de situações a resolver. Como referi, os motivos que estiveram na origem da decisão para um envolvimento mais efetivo na vida cívica calipolense prenderam-se com essa possibilidade, escrutinada pelos eleitores, de poder dar algum contributo efetivo para a discussão e planeamento sobre o futuro de Vila Viçosa.

E isto só pode ser feito em equipa, num trabalho cimentado por empenho e dedicação, com avanços e recuos, mas também com a imperativa necessidade de escutar outros pontos de vista, diferentes, mas não necessariamente descartáveis. Poder mudar de opinião é também sinónimo de tolerância e de respeito. E a minha postura pessoal tem sido essa, baseada na busca incessante em querer aprender, todos os dias, sabendo de antemão que os erros podem acontecer. O que pensamos em muitos casos ser uma boa decisão pode revelar-se precisamente o contrário. Mas isso não nos deve inibir de continuar a dar o nosso contributo para ajudar quem precisa. O trabalho diário é feito nesse sentido e com esse objetivo.

Talvez fruto de alguma ingenuidade e inexperiência, fui, ao longo destes anos, criando uma imagem que talvez seja demasiado romântica para os dias que correm. Acredito, apesar de tudo, que política é transparência e informação. Porém, todos os dias surgem casos sobre políticos, da esquerda à direita, que caíram nas malhas da ilegalidade e não somente no contexto nacional. Hoje, fomos confrontados com as suspeitas de um escândalo de corrupção sem precedentes no Parlamento Europeu. Num momento de grande tensão internacional, em que muito se discute em termos de geopolítica, acabados de sair de uma pandemia e mergulhado o velho continente numa guerra a leste, o que faltava agora era que a União Europeia, instituição na qual se deposita uma grande esperança, se veja agora a braços com um esquema de relações perigosas e obscuras, entre políticos de topo que deveriam dar o exemplo, coincidente com o cargo que ocupam.

Fala-se muito no crescimento dos discursos populistas e demagógicos e infelizmente, assistimos a mais uma acha deixada na fogueira. Pode ser o princípio do descrédito total relativamente às instituições europeias, que deveriam ser imaculadas no que concerne à transparência sobre a gestão dos dinheiros públicos.

O que pensará o comum cidadão, que assiste a todos estes insólitos episódios, dia após dia, no conforto do seu lar, massacrado por uma inflação crescente, sem saber como será o futuro, se o gasóleo aumenta ou não para a semana e se terá dinheiro para suprir as necessidades básicas da família?

O pensamento é o de que, cá e lá, todos os políticos são iguais e que apenas se movem por interesses pessoais. Os que nunca acreditaram na Europa têm agora terreno fértil para argumentar contra a união dos Estados europeus e acabam de dispor de mais um argumento para tentar descredibilizar as instituições nas quais eu pessoalmente acredito. Embora saibamos que é necessário separar o trigo do joio, as generalizações são inevitáveis, perigosas e com tendência a crescer. Os casos são muitos. Ainda que seja prematuro fazer acusações que podem ser infundadas, a desconfiança pairará sempre, como um fantasma, sobre a cabeça dos que hoje foram noticiados como suspeitos, com destaque para uma deusa do Olimpo grego, que não terá resistido à tentação do dinheiro...

Muitas vozes agora se vão levantar no repúdio sobre esta questão, mas na prática, é urgente tomar medidas para evitar que situações semelhantes aconteçam. Receitas infalíveis não existem, bem sei.

Mas como disse um dia Francisco Sá Carneiro, a política sem ética é uma vergonha!