15 Outubro 2022      12:17

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Ninguém pára o Marcelo!

Em pouco mais de uma semana o Sr. Presidente da República, Professor Marcelo Rebelo de Sousa, comentou o seu próprio discurso do 5 de outubro, o Orçamento de Estado para 2023, as projeções do FMI para Portugal, a situação das eventuais incompatibilidades de alguns governantes, a situação e os resultados da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa, entre outros temas bastante diversificados.

O Sr. Presidente da República comenta tudo e mais alguma coisa. Cada vez que lhe colocam microfones à frente não resiste à tentação de falar. Chegamos a um ponto em que os discursos ou as intervenções do Presidente da República perderam parte da eficácia desejada. Corremos o risco de os portuguesas desvalorizarem, cada vez mais, as paçlavras da mais alta figura da nação.

A situação tornou-se mais grave, isto porque o Presidente da República cometeu duas gafes monumentais:

1) Com base nos resultados da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa, o Presidente da República considerou que "400 casos não parece particularmente elevado", tendo em conta que "noutros países e com horizontes mais pequenos houve milhares de casos".

2) O Presidente da República assume contacto com bispo José Ornelas sobre investigação relacionada com o alegado encobrimento por parte do bispo de crimes de pedofilia no seio da Igreja Católica. Assumiu que teve a iniciativa de contactar o bispo José Ornelas para lhe dizer que "não foi pessoal" a denúncia contra ele que encaminhou para o Ministério Público.

Evidentemente que as palavras proferidas pelo Sr. Presidente da República tinham que gerar obrigatoriamente uma onda de indignação e fizeram com que o Presidente da República se justificasse várias vezes. Tornava-se impossível poupar críticas ao Sr. Presidente da República, Pf. Marcelo Rebelo de Sousa.

O Sr. Presidente da República deveria enaltecer e agradecer às vítimas por terem tido coragem de denunciar os crimes sofridos. Simples! Em nada interessam os números.

No outro caso, sobre o contacto com o bispo José Ornelas sobre o alegado encobrimento por parte do bispo de crimes de pedofilia no seio da Igreja Católica, podemos questionar se o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, violou o segredo de justiça. 

Em termos práticos e segundo os especialistas, do ponto de vista jurídico e formal, o facto de o bispo já saber da denúncia, não desonera Marcelo de respeitar o segredo de justiça. Mas independentemente da legalidade da situação, o contacto com o bispo José Ornelas é totalmente injustificado.

A expressão mais simpática que me ocorre, é que estamos perante uma situação reprovável por parte da mais alta figura da nação.

Olhando para a experiência do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, parece-me que deve andar sem qualquer aconselhamento. Em «roda livre»! Provavelmente não deve «passar grande cartão» aos seus conselheiros, depois vai falando demais, e já bastantes vezes, mal.

Depois queixem-se que os populismos vão proliferado por aí!