27 Julho 2020      12:06

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Neuropsicologia e desenvolvimento cerebral

O desenvolvimento do Sistema Nervoso Central (SNC) inicia-se com a fecundação. A constituição do cérebro humano decorre deste desenvolvimento e as suas características particulares surgem da interação entre os fatores genéticos e ambientais. Este processo dinâmico de interação provém, inicialmente, de uma interconexão entre a componente genética e o ambiente intrauterino e, posteriormente, dos genes com o ambiente externo após o nascimento.

Contudo, alterações nestes ambientes poderão afetar o normal desenvolvimento do SNC. Durante os períodos críticos de desenvolvimento, nas quais as experiências vivenciadas pelo sujeito produzem alterações moleculares nos circuitos neuronais, as crianças devem beneficiar de uma estimulação que fomente um favorável desenvolvimento do SNC. Os primeiros dois anos de vida são de extrema importância para a evolução das suas capacidades sensoriomotoras (Fiori, 2006; Gil, 2004; Habib, 2000). Neste sentido, o estudo realizado por Ben-Pazi et al. (2018) mostrou que uma estimulação sensorial adequada promove benefícios, inclusivamente, em crianças com paralisia cerebral (PC).

Nesta investigação, ao ser analisado o impacto da estimulação auditiva nas capacidades motoras das crianças com PC, conseguiram-se resultados positivos, por exemplo, ao nível das extremidades superiores ou da motricidade grossa, aliviando a hipertonia apresentada pelos participantes. Para além disto, é primordial atender ao comportamento materno durante o período gestacional, pois a progenitora que apresente condutas de consumo de substâncias psicoativas, álcool, uma má nutrição, entre outros, está a influenciar negativamente a saúde e o desenvolvimento cerebral do seu bebé.

A situação atual de pandemia em que vivemos, pode igualmente promover problemas do foro emocional e/ou altos níveis de stress na mulher e que se tornam perigosos para a criança. Assim, é de extrema importância erradicar condutas prejudiciais que possam existir por parte da progenitora, adotar estratégias adaptativas para se enfrentar a situação de pandemia e promover-se uma estimulação adequada que fomentem o bom desenvolvimento da criança no seu meio natural de vida (De Rooij et al., 2010; Fiori, 2006).

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Lídia Serra é Doutora Internacional em Neuropsicologia pela Universidade de Salamanca. 
Docente de Neurociências e Neuropsicologia do ISEIT – Instituto Piaget de Almada; Docente da UC de “Niveles Táctiles, Motricidad, Lateralidad y Escritura” e Diretora de TFM do Máster en Neuropsicología y Educación da Univerisdad Internacional de la Rioja, Espanha. Membro do Centro de Investigação CLISSIS da Universidade Lusíada de Lisboa.