11 Fevereiro 2019      11:17

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Negócio de futuro? O desenvolvimento

A história da humanidade é a história de uma migração. Desde que o ser humano se começa a afirmar no seu habitat como líder da cadeia alimentar, este começa também a expandir-se por todos os territórios do planeta em busca de novos recursos e regiões mais prósperas. É esse o factor que leva o ser humano (como animal) a procurar novas geografias, a prosperidade, é esta que assegura a sobrevivência e reprodução do indivíduo, e consequentemente, da espécie, principais factores de caracter biológico que definem toda a tomada de decisão individual de um ser humano ao longo da sua vida.

O processo de migração do ser humano é constante, na medida em que a prosperidade não é estática, nesse sentido, existem sempre migrações em curso, sejam elas continentais, internacionais ou intranacionais.

Neste momento da história em que actualmente vivemos, nota-se a existência de um aumento de alguns fluxos migratórios que já existiam. Notam-se na Europa, com fluxos de migrantes provenientes de todo continente Africano, assim como do Médio Oriente. Fluxos esses que foram exacerbados não apenas pela falta de prosperidade nos territórios de proveniência, assim como pelo factor segurança e pelo factor estabilidade política. Problemas estes causados em parte por uma certa ingerência dos países ocidentais nestes territórios, provocando desestabilização no Médio Oriente por via de acções maioritariamente militares, e no norte de África por via de acções de caracter maioritariamente socio-político e, no caso da Líbia, também militar. Acções essas que debilitaram gravemente esta cintura de países entre Marrocos e o Iraque, cintura que sustinha e absorvia os fluxos migratórios que hoje vemos engrossar, pois, a estabilidade económica e política permitia integrar alguns migrantes e conter o avanço dos mesmos.

Notam-se também na América do Norte e do Sul casos semelhantes. No norte surgem fluxos migratórios provenientes da América Central que fogem à insegurança, ao narco-terrorismo e à miséria vivida debaixo dos regimes narco-socialistas. No sul existem fluxos idênticos a estes, porém, em menor escala, e existe o fluxo proveniente da já conhecida crise humanitária na Venezuela.

É neste ponto que o título deste artigo começa a fazer sentido.

Começam-se a sentir os efeitos destes picos migratórios na Europa e nos EUA, o melhor reflexo disso mesmo são os resultados eleitorais dos últimos anos de um lado e do outro do Atlântico. O povo americano sentiu-se na necessidade de eleger Trump, e os povos da Europa central e do leste começam a dar oxigénio a visões de uma direita que se julgava morta. Tal não acontece por acaso em democracias, e este panorama deve fazer-nos reflectir e agir de modo a não reacordar fantasmas de um passado conhecido. E é precisamente isso que alguns governos da Europa começaram a fazer. Esperemos que não demasiado tarde.

Começaram a ser aprovadas políticas públicas que visam desbloquear e desburocratizar as trocas comerciais entre países europeus e africanos, para que estas se desenvolvam melhor e mais rápido. Há aqui uma clara intenção de ver os países africanos desenvolverem-se economicamente, debaixo do pensamento de que apenas países desenvolvidos conseguem suster os seus habitantes, o que, a longo prazo, fará reduzir os fluxos migratórios.

Não acredito que seja um ponto de chegada, mas sim um ponto de partida, porque será necessário fazer alastrar essas medidas a outras zonas do globo que apresentam outros desafios com diferentes graus de complexidade de modo a produzir negócios seguros e rentáveis.

Todavia, há países que já se adiantaram nessa corrida como é o caso da Turquia e da China, que já desenvolvem negócios em África com uma certa desenvoltura e presença muito forte em determinados países.

África, por exemplo, apresenta-nos países com elevadas massas populacionais e com médias de idade baixíssimas na ordem dos 19 e 23 anos, ou seja, muita população em idade activa e de produzir valor.

Imaginemos uma empresa portuguesa que exporte bens para o mercado europeu. Essa empresa exporta para um mercado de aproximadamente 430 milhões de potenciais consumidores (contando já com a saída do Reino Unido).

Agora imaginemos outra empresa que exporte para a Etiópia, Nigéria, República Democrática do Congo e África do Sul. Esta empresa exporta bens para um mercado também com aproximadamente 430 milhões de potenciais consumidores, mas em apenas 4 países!

É claro que são economias onde o poder de compra é, em geral, muito mais baixo, mas também é verdade que a concorrência nestes países pode ser quase zero em certos segmentos de negócio! Factor que alarga abismalmente o leque de compradores e que, por consequência, nos permite definir preços. O que noutros mercados, como no norte americano ou no europeu não é possível para a quase totalidade das empresas.

A China sabe-lo, assim como a Turquia e a Rússia, assim como a França e a Alemanha começam a descobrir, e assim como os EUA também estão a dar início a uma onda de investimento em África por não tencionarem ficar atrás da China no tabuleiro de influências deste continente.

Significa isto que, quando existe uma necessidade por parte dos Estados mais desenvolvidos em resolver problemas internos que obrigue à quebra de barreiras e ao desenvolvimento de novos mercados como solução para esses problemas internos, abrem-se oportunidades sem precedentes como aquelas que se adivinham em mercados que se consideravam irrelevantes e inconstantes. A África subsariana será um início, seguindo-se o norte de África e posteriormente, dependendo dos desenvolvimentos na região nos próximos 20 anos, o médio oriente e a Ásia central.

A mesma fórmula se aplica para o paradigma Americano, tanto nos países da América central, como na Venezuela, dependendo dos desenvolvimentos em curso, e da abertura dos futuros governos ao investimento estrangeiro.

Prova que quando existe vontade e/ou necessidade por parte do mundo desenvolvido em ver também desenvolvidos países que habitualmente lutam contra a pobreza extrema, abrem-se interessantes janelas de oportunidade.