9 Agosto 2022      09:24

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Museu Berardo Estremoz: uma herança cultural

Por Joana Casca

 

Localizado no centro de Estremoz, junto ao jardim municipal, o Museu Berardo, instalado no Palácio Tocha, apresenta aquela que é considerada a maior e mais importante coleção privada de azulejos de Portugal. Exclusivamente dedicado à azulejaria, expõe uma herança deixada pela cultura islâmica, que desempenhou um papel significativo na expressão artística portuguesa ao longo dos séculos. 

O Museu Berardo Estremoz surge de uma iniciativa conjunta da Coleção Berardo e da Câmara Municipal de Estremoz, com a intenção de expor e dar a conhecer ao público mais de 4 500 exemplares de azulejaria, que vão do século XIII ao século XXI, representando a História do Azulejo. A coleção patente no museu é composta por conjuntos azulejares “in situ”, património integrado na Quinta e Palácio da Bacalhôa (Azeitão) e no Palácio Tocha (Estremoz).

O próprio edifício onde o museu está instalado, o Palácio Tocha, contém importantes conjuntos representativos de azulejaria tardo-Barroca e Rococó. Através da exposição inaugural, intitulada “800 Anos de História do Azulejo”, o público tem a oportunidade de percorrer e conhecer a história dos últimos oito séculos de azulejaria.

Nas primeiras salas do museu, encontramos um conjunto de azulejaria espanhola, que acompanha a evolução das técnicas de corda-seca, aresta, majólica e o alicatado, produzido em Sevilha e em Granada durante os séculos XIV, XV e XV. Esta secção destaca-se pelo teto com placas cerâmicas e pela reconstrução de duas composições monumentais do século XVI, uma delas de acordo com a tradição espanhola e, a outra, com a tradição portuguesa.

No que diz respeito ao vasto conjunto de azulejaria portuguesa, os visitantes podem encontrar-se com um dos paradigmas da criatividade dos azulejadores portugueses de seiscentos: o painel de azulejos de padrão de “Marvila”, constituído por módulos em forma de losango, de 12x12 azulejos, considerado o painel de maior dimensão concebido no mundo.

Nas salas do piso térreo do museu estão expostos uma série de conjuntos de padrões, alguns deles provenientes de igrejas onde o padrão se utilizava, muitas vezes, para circundar pequenos painéis com figuras de santos ou narrativas religiosas. O exemplo mais significativo no museu é a mística representação de um ostensório, identificado como “Alegoria Eucarística”.

O acesso ao piso superior do Palácio é feito por uma escadaria em mármore (de Estremoz), que é revestida por painéis azulejares de finais da primeira metade do século XVIII. É a partir deste piso que se encontra a divisão mais nobre do Palácio, em virtude do valioso conjunto decorativo de painéis de azulejos historiados. Esta divisão designa-se como “Sala das Batalhas”, pois é nela que se retratam inúmeros episódios das vitórias dos Portugueses, imortalizados através dos painéis, que foram especificamente concebidos para este espaço e encomendados a conceituadas oficinas de Lisboa, no século XVIII.

No âmbito da arte profana, o Museu Berardo Estremos detém aquele que é considerado um dos maiores tesouros da azulejaria portuguesa: as “Macacarias”, que representa cenas satíricas, maioritariamente protagonizadas por símios.

No final do século XVII, o azulejo português inicia um novo ciclo, caracterizado pela pintural exclusivamente a azul. No museu é possível encontrar inúmeros painéis representativos desse mesmo período.

No entanto, é apenas no início do século XVIII que o pintor de azulejo assume o estatuto de artista, passando a assinar com frequência as suas obras. O Ciclo dos Mestres é representado no museu através de obras de Manuel dos Santos, Mestre Teotónio dos Santos, Nicolau de Freitas, entre outros.

Já no período apelidado de “Regresso à cor”, é possível encontrar dois painéis recortados: “Eleita como o Sol e Formosa como a Lua”. Podem ver-se outras produções originais, com destaque para a figura feminina que acolhe os visitantes no átrio de entrada do museu.

No museu também se encontram representados os estilos: Rococó e Neoclássico. Existe uma sala dedicada ao azulejo Pombalino, com uma variedade enorme de padrões que se prolongam no tempo, percorrendo os estilos Revivalista e Nacionalista dos finais do século XIX e princípios do XX. Apresenta ainda uma importante representação do que é a padronagem industrial do azulejo, percorrendo os movimentos Arte Nova e Arte Deco, e culminando com os grandes artistas que marcaram a segunda metade do século XX e da atualidade.

Este museu proporciona uma visão panorâmica e preciosa da história da azulejaria. As visitas guiadas ao museu funcionam por marcação prévia, de terça feira a domingo, nos horários: 10h30 e 15h.

 

Fotografia de museuberardoestremoz.pt