2 Setembro 2018      11:02

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Morreu um homem de “raça”

Morreu Cavalli-Sforza, aos 96 anos, sem estrondo, sem direito a manchetes e só notícia em alguns órgãos de comunicação social.

O nome Luigi Luca Cavalli-Sforza é desconhecido de quase todos, no entanto, o cientista geneticista italiano foi responsável pelo estudo sobre a distribuição geográfica de variantes genéticas na Terra e que veio a permitir a reconstrução de como se deu a expansão da humanidade pelo planeta.

Através do estudo do ADN e da língua dos povos, este estudo permitiu ainda outra coisa, concluir que, ao nível biológico, o conceito de “raça” não tem qualquer utilidade, ou seja, Cavalli-Sforza acabou com o conceito de raça.

O cientista italiano partiu do desejo inato do ser humano em viajar e este foi o ponto de partida para o seu estudo. Nascido em Génova, foi professor no Reino Unido, emérito na Universidade de Stanford nos Estados Unidos e trabalhou ainda na Universidade de Pavia, em Itália, tendo desbravado caminho para o estudo da genética quando muito pouco existia sobre a matéria.

Tendo-se focado na genética humana, traçou as migrações em massa do passado remoto com base em pistas no sangue dos humanos atuais e não através das escavações arqueológicas, o que permitiu a já referida reconstrução da expansão da humanidade pelo planeta e chegar a concluir que a proximidade genética entre as populações humanas leva o conceito de raça a um conceito cultural sem justificação biológica.

Afirmar algo assim, é obviamente causador de ódios e o italiano sofreu as devidas represálias, sobretudo enquanto esteve nos Estados Unidos, através de cartas e ameaças de supremacistas brancos.

A raça serviu, ao longo dos séculos, para invasões, genocídios, guerras e, se dúvidas houvesse, Cavalli-Sforza demonstrou pela ciência que a raça está somente na nossa cabeça e de quem a quer utilizar para outros fins, para dividir para poder “reinar”.

A raça realmente não existe e o exercício é simples: um invisual não distingue raça, uma pessoa é uma pessoa; um humano, é um humano.

Aparece com frequência na internet - e atribuída a vários autores diferentes sem muita exatidão de quem disse primeiro - a frase: “Éramos todos humanos até que a raça nos desligou, a religião nos separou, a política nos dividiu e o dinheiro nos classificou.” Pois bem, se a questão racial está no cerne da divisão, biologicamente essa divisão nunca existiu e foi Cavalli-Sforza que o demonstrou. Resta agora a quem vive, acabar com o preconceito cultural encrustado ao longo de séculos.

 

Fotografia de Tania Cristofare em static.ilmanifesto.it  

 

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