20 Setembro 2022      10:34

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Montemor-o-Novo foi palco de ante-estreia de “Nayola”

O filme de animação “Nayola”, de José Miguel Ribeiro, teve a sua primeira apresentação pública na sala do Cineteatro Curvo Semedo, em Montemor-o-Novo. O filme deverá estrear no próximo mês de março.

De acordo com o Jornal de Notícias, esta longa-metragem inspirou-se na peça “A Caixa Preta”, de Mia Couto e José Eduardo Agualusa, que ambos escreveram a partir de um conto de três páginas do primeiro, e aborda a guerra civil angolana através do olhar de três mulheres – Lelena, a avó; Nayola, a filha; e Yara, a neta. O filme conta ainda com a voz e canções de Bonga.

O filme é o resultado de oito anos de trabalho, que envolveu uma equipa de mais de uma centena de pessoas em quatro países e com um orçamento de três milhões e duzentos mil euros, só possível de atingir pela coprodução com a Bélgica, os Países Baixos e a França.

Além disso, a escolha de Montemor-o-Novo para a ante-estreia não foi aleatória: a Paça Filmes, produtora nacional do filme, está sedeada na cidade alentejana, local também onde José Miguel Ribeiro decidiu viver e desenvolver os seus projetos.

O cineasta, já vencedor do prestigiado Cartoon d’Or, com “A Suspeita”, é autor de uma das duas longas-metragens de animação portuguesas que estiveram presentes em Annecy, em junho passado, naquele que é o maior festival de cinema de animação do mundo, assinalando assim um decisivo passo em frente no já de si excelente cinema de animação português.

A outra produção, “Os Demónios do Meu Avô”, animação stop motion de Nuno Beato, estreara dias antes de “Nayola”, numa sessão do Motel/X. O filme de José Miguel Ribeiro passara entretanto por festivais no México, de onde saiu premiado, em Moçambique e na Suíça.

“Nayola” integra ainda a seleção oficial do 46.º Cinanima (Espinho, 7 a 13 de novembro), sendo um dos cinco filmes da Competição Internacional de Longas Metragens e um dos 107 a concurso.

Em declarações à audiência, antes da apresentação do filme, José Miguel Ribeiro referiu que “foi uma escala que me obrigou a trabalhar em equipa, com muitas fases de produção. O filme teve participação de muitas pessoas, eu senti-me muito mais a orquestrar o filme do que propriamente a dirigi-lo”.

“Apesar do Mia e do Agualusa já o terem mostrado com a peça deles, que está na origem do projeto, foi preciso defendê-lo e construir as personagens, encontrar uma Yara que é rapper, e não estava no texto original”, explicou também o realizador.

“Fomos à procura do movimento rapper angolano, que é muito ativo. São movimentos muito importantes em Angola, porque denunciam injustiça social e trazem para a sociedade uma consciência”, assinalou o cineasta.

Já Virgílio Almeida, o argumentista, recordou quando tudo começou: “foi a 17 e 18 de dezembro de 2013 que fizemos a primeira residência. Começou como se fôssemos escultores e o barro foram o Mia Couto e o José Eduardo Agualusa que nos deixaram”. Não esquecendo a produtora, Ana Carina Estróia, o argumentista disse ainda: “deu-nos quatro coisas para arrancar com o filme. Pão alentejano, queijo de ovelha do Alentejo, compota alentejana e romãs”.

Jorge António, que fez a ligação com Angola, referiu a importância deste filme para o país onde vive. “Foi intenção da produção, desde o princípio, que todos os atores, todas as personagens, todas as vozes, fossem angolanas e fossem gravadas em Angola. Angola está em pulgas para ver o filme. O José Miguel Ribeiro foi três ou quatro vezes a Angola fazer workshops com a malta da animação e da banda desenhada”, destacou.

 

Fotografia de zippyframes.com