5 Agosto 2019      11:14

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Meritocracia paga?

Esta semana o CDS apresentou uma proposta para o preenchimento das vagas que porventura restem após a realização do concurso de acesso ao ensino superior.

Segundo os centristas, a solução passaria por pagar o acesso ao ensino superior o que, resumindo, consiste em comprar uma vaga.

Aqui temos mais uma prova do elitismo centrista em que, apenas quem tenha dinheiro, poderá ter uma segunda oportunidade de acesso ao ensino superior.

O acesso ao ensino superior público é feito através das médias das notas dos candidatos, num sistema guiado pela meritocracia.

Mesmo com este sistema, todos nós conhecemos casos de pessoas que desistiram de ir para o ensino superior por dificuldades económicas. E o que faz o CDS? Apresenta uma proposta que possa ajudar estas pessoas? Não. Apresenta um sistema que lhes cria ainda mais dificuldades de acesso.

A proposta do CDS tornaria o ensino superior que, só por si já deveria ser tendencialmente gratuito, num sistema semi-privado em que, por um lado temos estudantes que conseguiram a vaga pelo seu mérito e do outro temos estudantes que conseguiram a vaga pelo valor existente na sua conta bancária.

Ainda que os estudantes que conseguiram o valor monetário para aceder ao ensino superior possam ter tido o mérito de ter boas notas, o rótulo de “ter comprado a vaga” irá sempre permanecer.

O debate sobre o preenchimento de vagas precisa efetivamente de ser feito, mas com a seriedade que o tema merece e não aproveitando o tema para criar medidas elitistas típicas de um partido de direita que protege os que mais têm.

Existem universidades privadas em que efetivamente, quem tem dinheiro para pagar as mensalidades lhes pode aceder mas, este sistema é por estas instituições reguladas devido ao seu caráter privado.

Sendo o ensino superior público responsabilidade do Estado, que Estado seria aquele que permitisse dois sistemas de acesso totalmente díspares?

O ensino superior português precisa de uma reforma séria. O que não precisa é de tentativas de privatização.

 

Imagem de capa de Tiago Petinga / Agência Lusa