27 Junho 2020      09:42

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Mantodea

Chamava-se Mantodea. Tinha 28 anos e um curso universitário. Era uma criatura de pernas longas e um vestido verde longo de gala, uma mulher linda! Sabia que o era. E fazia uso disso. Mantodea depois de acabar o curso mudou de cidade e foi viver para o Algarve. Antes, em Beja, sempre fora uma rapariga discreta. Numa cidade de insectos, Mantodea fez o seu percurso de forma muito discreta. Andou de um lado para o outro e em Beja era uma pessoa que passava despercebida. Nunca ninguém notou que Mantodea era, verdadeiramente, uma assassina. Nem eu sabia. Fiquei a saber a partir do momento que partilhei convosco esta história.

Mantodea após acabar o seu curso universitário decidiu ir para Lisboa. Tinha concorrido a um trabalho ligado à sua formação inicial e, por mais estranho que pareça, foi contratada. Sem conseguir esconder a felicidade, Mantodea foi para Lisboa. Lá, seria uma mulher independente. Sabia o que queria.

Os primeiros meses correram de forma excelente. A moça que saiu de Beja tinha arranjado uma casa simples perto da praça Luís de Camões e ali vivia. Discreta, afável, uma mulher simples e carinhosa aos vizinhos. Não que falasse com muitos, mas entre aqueles com que falava nenhum deles fazia muito barulho. As vespas das vizinhas nunca diziam nada. Embora um besouro no rês do chão fizesse muito barulho, Mantodea era a mais calada das inquilinas daquele prédio.

Havia, porém, um segredo terrível que rodeava a vida desta mulher. Ninguém o sabia e ninguém o saberá. Eram, como se pode dizer, crimes por resolver. Mantodea era uma assassina. Isso mesmo que acabou de ler. Pela sua natureza, Mantodea era assim. Tinha de ser assim. A sua família já tinha sido assim. Não era fêmea de deixar a cabeça de um parceiro intacta.

Teve vários e todos eles apareceram nos caixotes do lixo de Lisboa. Horrível! Uma imagem repugnante. Vespas, abelhas, moscas, louvas a Deus sem cabeça, atiradas no lixo decapitadas. Como? Ninguém sabia ou podia dizer o que tinha acontecido.

Foi, de facto, um drama na cidade. Nunca tinha havido tal crime. Cinco ou seis assassinatos em menos de um mês. Mantodea passou despercebida no meio de toda a história mas... um inspetor pernilongo, mosquito de nome, identificou que Mantodea tinha algo a ver com o caso. Todos os insetos que perderam a cabeça tinham algo em comum. Todos tinham sido vistos nas câmeras de segurança a entrar em casa de Mantodea. E nenhum tinha sido visto a sair de lá. Morreram todos naquele apartamento e la mesmo perderam a cabeça.

Mantodea foi presa pouco tempo depois, pelo inspetor mosquito... e sabem como sei? Mantodea tinha na sua natureza aquilo que vos contei. Basta apenas pesquisar o seu nome.

Aos 60 anos, após 40 na prisão, faleceu e nunca mais decapitou nenhum Insecto. Louva a Deus.mais um conto