3 Maio 2020      10:48

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Liberdade para a imprensa é liberdade para si

Hoje é 3 de maio. Não é um dia de celebrações sociais, nem encontrará muitas referências onde quer que seja. Mas hoje é um dia importante, não pelo dia em si, mas por tudo o que representa.

O Dia 3 de maio é Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. Criado em 1993, pelas Nações Unidas com base no artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos:

“Todos os seres humanos têm direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.”

Recordamos a data com factos.

Quanto tanto se questiona o futuro da imprensa - quer pelas tentativas de construção de impérios e monopólios na comunicação; quer pelo surgimento cada vez maior de “fake-news” e canais de comunicação populistas e feitos a preceito para moldar a opinião pública, quer seja pela assunção de linhas editoriais politizadas – algo natural nos países anglo-saxónicos, ou mesmo pela sustentabilidade económica que a crise provocada pela COVID-19 veio pôr em causa, a imprensa vive dias difíceis e que só reforçam o seu papel de essencial para a Liberdade e Democracia.

Recuperando informações de um editorial publicado por nós a 31 de dezembro de 2019, recordamos que, em todo o mundo, em 2019, foram mortos 49 jornalistas, alguns deliberadamente assassinados; que 389 estão presos (sobretudo na China, Egipto e Arábia Saudita) e que 57 são reféns, sem contar as inúmeras agressões, números revelados no relatório da organização não governamental Repórteres sem Fronteiras (RSF).

Recordamos que, apesar de graves, no que respeita ao número de mortes há uma redução de quase metade, face à média dos 20 anos anteriores e que, apesar de muitas mortes se terem verificado em países em guerra, sobretudo no Médio Oriente, é agora a América Latina que aparece agora como um ponto negro neste aspeto.

O jornalismo livre promove a igualdade de acesso ao conhecimento, à compreensão do mundo que nos rodeia. Um jornalismo sério dá conta desse mundo; um jornalismo dependente ou exclusivamente preocupado com os lucros, dá conta do mundo que lhe convém e, como disse o Marquês de Maricá, “Num povo ignorante a opinião pública representa a sua própria ignorância.”

A imprensa e o jornalismo são o garante da Democracia, de um mundo mais consciente, justo, solidário e fraterno.

Em 2018, publicámos novo editorial e que dava conta do Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa de 2017 – realizado pelos Repórteres Sem Fronteiras - e que mostrava uma realidade preocupante, revelando um aumento exponencial e até uma banalização dos ataques contra os média e um regresso aos condicionamentos de políticos autoritário, da propaganda política e da repressão ao estilo Goebbels, e em países ditos democratas como os Estados Unidos – à data 43os do Ranking – ou o Reino Unido – 40º, e que - quer Trump à sua vontade, quer os britânicos pró-Brexit -  estavam a condicionar fortemente a comunicação social.

A Polónia, um país com linha ténue entre democracia e o extremismo, o ex-primeiro-ministro e agora presidente Jaroslaw Kaczynski , com o estrangulamento financeiro vários impostos a muita imprensa independente opositora ao regime e dada crescente onda propagandista de outros tantos canais de imprensa, é agora 54º.

Mais atrás ainda, em 71º, surge outro membro da EU, a Hungria de Viktor Orbàn, que em pouco difere do irmão Kaczynski.

Também a Turquia se apresenta num vergonhoso 155º lugar e o regime de Erdoğan – após o golpe de Estado falhado, ou encenação do dito – desistiu da Democracia e rendeu-se definitivamente ao autoritarismo, sendo mesmo o país que mais prende jornalistas em todo o mundo.

Em pleno ressurgimento da guerra fria, a Rússia de Putin manteve o seu lugar face ao ano passado, o que até seria bom sinal, não estivesse na 148a posição.

A liderar o ranking estão os países nórdicos, apesar de apresentarem já também algumas lacunas; a liderar a Noruega, a Suécia em 2º e a Finlândia em 3º.  Portugal está 18º lugar.

No lado oposto, o país com menor liberdade de imprensa é mesmo a Coreia do Norte sob o regime de Kim Jong-un.

António Guterres, Secretário Geral da ONU, recordou hoje o que representa este dia e afirmou que “a liberdade de imprensa é essencial para a paz, justiça, desenvolvimento sustentável e para os direitos humanos.” apesar de, com as novas tecnologias, a informação não ser toda fidedigna: “Os fatos, e não as mentiras, devem guiar as pessoas quando escolhem os seus representantes. No entanto, embora a tecnologia tenha transformado a forma como recebemos e partilhamos informações, às vezes também é usada para enganar a opinião pública ou para alimentar a violência e o ódio.” e estando o mundo a a assistir a um crescimento da retórica anti-media e de violência e assédio contra os jornalistas, inclusive contra mulheres.

 

Veja aqui o vídeo de António Guterres.