16 Novembro 2019      23:03

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Les Yeux Sans Visage

Les Yeux Sans Visage (1960), de Georges Franju - Que os olhos mais tristes do mundo não tenham rosto parece o mais congruente dos princípios, dado o superlativo em causa, que aniquila tudo o resto. Tal como o que se segue: os olhos mais tristes, absorvidos por um extremo, não podem, muito naturalmente, deixar de ser absolutos na sua consequência – (na perspectiva do observador) são pontos de luz que uma vez descodificados, se tornam em poesia cristalina e estelar, devastadora.

São olhos que contam a dois tempos, o tempo que precede a tristeza e dela desagua num certo efeito (tempo linear) e o que se lhe segue, que vive para lá dos limites da narração e, portanto, não se pode quantificar nem qualificar. História desde logo contaminada por uma inflexão, a tristeza, e depois espaço aberto, uma dissonância. Se a história se conta em dois tempos, o que remanesce, e começa numa vibração, nunca mais deixará de ser contado.

A história, feita filme ou novela, tem de findar, e a dado momento acaba, que o tempo da criação é finito, mas a poesia dos extremos não se pode conter com um Fim. Sobrevive, deixando um rasto de luz mensurável em toda a dimensão do universo visível, que não cega necessariamente, uma vez que nem toda a luz é cintilação, e se propaga na noite dos tempos. Certos mecanismos, estranhamente simples, apenas silício e outros metais sob combinação, permitem o seu vislumbre no espectro do possível, até à 'radiação de fundo'.

A observação da poesia dos extremos não distingue a arte da ciência.

 

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