3 Julho 2022      13:23

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Justiça ou vingança?

Salah Abdeslam, o terrorista condenado pelos atentados em Paris

Justiça ou vingança podem, muitas vezes, parecer a mesma coisa, no entanto, o seu âmbito é diferente. Enquanto justiça só deve ter um conceito único e é do campo do racional, a vingança é algo mais pessoalizado, grupalizado, do foro emocional e sentimental. Epicuro referiu-se a estes conceitos do seguinte modo: “A justiça é a vingança do homem em sociedade, como a vingança é a justiça do homem em estado selvagem.”, sendo que, ao estado selvagem, ninguém deveria estar interessado em voltar, não no que aos conceitos sociais dizem respeito, pelo menos.

Estará fresco na memória de muitos o nome “Bataclan” e o atentado naquela noite 13 de novembro de 2015, em que vários fundamentalistas islâmicos se fizeram explodir em esplanadas de cafés e restaurantes, além da referida sala de espetáculos onde, naquela noite, decorria um concerto da banda norte-americana Eagles of Death Metal, ali próximo, no “Stade de France”, disputava-se um França-Alemanha em futebol. Do conjunto dos atentados resultaram um total de 130 mortes.

Todos concordaremos que não há perdão para o terrorismo. Que quem pratica atos terroristas deve ser punido por esse ato, que deve ser dissuasor para comportamentos semelhantes futuros. Mas e se um terrorista se arrepende e não avança com o ato? Deve a pena ser igual? A ser, e do ponto de vista do terrorista, o que mudou em não ter praticado o ato se a pena é igual?

Os 130 mortos podiam ter sido muitos mais se Salah Abdeslam se tivesse feito explodir também. Arrependeu-se, não o fez (claro que fica sempre a dúvida se foi medo) mas Abdeslam, em resposta à advogada da parte civil Claire Josserand-Schmidt, confessou: "Não segui em frente. Desisti do meu cinto, não por cobardia, não por medo, mas sim porque não quis, essa é a verdade."

Por medo ou por arrependimento, não o fez. Em Tribunal, Abdeslam confessou o seu radicalismo, chorou e pediu desculpas às vítimas, além de implorou aos juízes perdão pelos “erros”. A sentença do seu ato – juntamente com a de mais 19 intervenientes condenados por terrorismo - foi proferida esta semana e foi condenado a prisão perpétua, sem possibilidade de liberdade condicional, a sentença mais grave do sistema penal francês.

Se me parece demasiado? Não. Planeou um atentado terrorista. É um criminoso, mas… Todos os outros intervenientes diretos neste atentado morreram. Se tivessem sido apanhados com vida – por exemplo, num atentado terrorista de outra tipologia que não esta - a pena seria igual à de Abdeslam que não efetivou o atentado. Fica a questão: praticar os atos e ser apanhado ou planear o ato e não o realizar por completo justificam a mesma pena? Será uma mensagem correta para que, no futuro, mais se arrependam e não os pratiquem?

Certezas? Poucas. Só que foram mortos inocentes e que o sectarismo, o fundamentalismo e o radicalismo, sejam de que espécie forem, não são promotores da paz e da segurança. Como mudar isto? “Educai as crianças e não será necessário castigar os homens” Pitágoras dixit.